Adolescência - uma das etapas mais difíceis da evolução humana.
Andrea Arnold, a realizadora inglesa, consegue descrever de forma direta, nua e crua a vivência de uma jovem britânica, fruto de uma família disfuncional, sem valores, sem regras, ausente de rotinas, entregue à rua, à delinquência, à bebida e à violência.
Fish Tank retrata a história de Mia Williams (interpretada pela desconhecida Katie Jarvis), uma adolescente de 15 anos, fruto daquilo que a família e a sociedade fez dela.
Muitas vezes vimos na televisão documentários e reportagens sobre a delinquência juvenil, as culpas são sempre as mesmas - o sistema educacional, as famílias, as ruas, os amigos: parece que a solução é sempre a mesma - a institucionalização. Esse sistema de correcção está implícito em Fish Tank, mas permite ir mais além, e facilmente percebemos que na verdade, Mia não é a única a precisar de correcção.
No meio de grandes e profundos distúrbios, Mia é uma criança grande que precisa de atenção. É provocadora, solitária, pouco social, violenta e tem na dança um refúgio pessoal e social.
Na vida mundana e promiscua da mãe entra Connor O'Reily, o charmoso irlandês, interpretado por Michael Fassbender. Connor é alguém aparentemente atento, bem educado e pronto a ajudar. Recebido com alguma desconfiança inicial, depressa começa a ser visto por Mia, pela irmã e pela mãe como alguém que podia salvar esta família desfasada de valores.
Mas na verdade também ele é disfuncional e aquilo que começa por ser um afecto parental entre O'Reiley e Mia, depressa resvala para uma ténue fronteira entre a pedofilia e um "síndrome lolita". A fronteira sentimental é ultrapassada e a relação entre o adulto e a jovem torna-se física. Como a vida de Mia não é fácil, a relação dela com o namorado da mãe também não o é. Connor tem uma vida paralela e aparentemente estável.
A jovem sedenta de afectos tem dificuldade em perceber a gravidade do que aconteceu e numa tentativa de solucionar, chamar a atenção, ganhar amor, segue um percurso onde cada passo é um erro e no meio dos disparates que faz, arrisca mesmo o fim de uma vida humana, mas, por um milagre tudo não acaba em desgraça.
Não é um filme para todos. É violento, cruel e triste num sentido em que aborda uma realidade de que todos conhecemos exemplos. A realizadora é eximia a explorar esta relação entre o real e a ficção.
Este filme de Andrea Arnold arrecadou vários prémios, de que merecem destaque o BAFTA para Melhor Filme Britânico e o Prémio do Júri em Cannes.
"Writer-director Andrea Arnold has created something so real and raw, you may come away with a twinge of guilty voyeurism, a sense of peering too closely and impolitely into other people's lives (...) "Fish Tank" is hardly an action film, but the drama unfolds like a train wreck waiting to happen, Arnold taking her characters to the brink and beyond as Mia and Connor test the bounds of appropriate behavior involving a teen no longer a girl, not yet a woman (...) The title is appropriate. Arnold's characters are not fish gasping for breath on a creek bank, an image right out of the film. But they do come off as authentic and unaffected, as true to their nature as fish under glass" (fonte: David Germain - Associated Press)
Muito boa a critica, neste interessante texto que tem a novidade de usar vários spoilers...
ResponderEliminarDescrevi resumidamente assim no MUBi:
"A tale of a conflicted daughter that finds more on her troubled mother's new boyfriend that was not expected. Aside from her dreams to become b-girl dancer there's her coming-of-age. A movie with sensitivity, wise and a touch for the heart. Don't miss this!"
Um facto muito interessante deste filme é o facto de a realizadora Andrea Arnold, só ter duas formas de visão na abordagem visual que deu ao filme. Tal como num aquário (o título do filme), nós os espectadores, ou só vemos imagens com a Mia ou então só vemos aquilo que ela vê. Tal como um peixe no aquário...
8/10 - Muito Bom filme!
Obrigado Armindo, por me teres indicado esta realizadora. Adorei. É totalmente o meu género de "coisa". Sim a ideia do aquário é muito interessante, sobretudo quando foca o factor "urbanismo"/"cenários" do filme. Apesar de menos urbano que Red Road é um excelente retrato de uma Inglaterra peculiar.
ResponderEliminarNunca me lembro disso do MUBi :(