27/10/2012

Skyfall (2012)



[spoiler]

When I wrote the first one in 1953, I wanted Bond to be an extremely dull, uninteresting man to whom things happened; I wanted him to be a blunt instrument ... when I was casting around for a name for my protagonist I thought by God, [James Bond] is the dullest name I ever heard.
Ian Fleming, The New Yorker, 21 April 1962



Muitos foram e são aqueles que criticaram / criticam a escolha de Daniel Craig para encarnar o mais famoso agente secreto da literatura e do cinema - James Bond - o agente 007. Para alguns era obrigatório que o agente tivesse a "classe inglesa", o "charme encantador" (e tantas vezes ridículo), a pronuncia, a delicadeza de se safar da mais difícil missão com um explosivo na caneta, ou um telefone no sapato. Felizmente acreditei na escolha de Craig desde o minuto zero. Daniel deu a Bond a acção, facultou-lhe a rudez de um escocês, deu-lhe um estilo físico único. Nunca as roupas do agente foram pensadas com este grau de detalhe. O Bond de Craig não perde tempo com flirts melosos, não necessita de gadgets de minuto a minuto - aliás este Bond goza com isso - tem um sentido de humor directo e eficaz. A inexpressividade da cara de Craig coincide com o Bond que ele soube recriar. 




Sam Mendes (o realizador por detrás do incrível American Beauty)  foi convidado para o "projecto Bond", resistiu aos problemas financeiros do estúdio, ao abandono do argumentista Peter Morgan e até foi consultor. Mas nunca virou as costas ao filme. Tal como o agente secreto, o realizador superou as privações e dificuldades e conseguiu em 2012 - quase unanimemente - criticas positivas em torno de Skyfall. 


Neil Smith, Total Film
The Daniel Craig era comes of age with a ballsy Bond that takes brave chances and bold risks. Guess what? Turns out you can teach an old dog new tricks.

Peter Debruge, Variety
Putting the "intelligence" in MI6, Skyfall reps a smart, savvy and incredibly satisfying addition to the 007 oeuvre, one that places Judi Dench's M at the center of the action.

Todd McCarthy, The Hollywood Reporter
Dramatically gripping while still brandishing a droll undercurrent of humor, this beautifully made film will certainly be embraced as one of the best Bonds by loyal fans worldwide and leaves you wanting the next one to turn up sooner than four years from now.

John Semley, Slant Magazine
Bond's latest is a remarkable high watermark for the series: at once solemn and deeply funny, sexy and sad, self-conscious without all the rib-bruising elbowing.

Oliver Lyttelton, The Playlist
Best of all is the bad guy. Javier Bardem was always a tantalizing choice to play a Bond villain, and his Silva is a terrific creation, and certainly the most memorable villain in the series in decades.

Joe Neumaier, New York Daily News
Though a notch below "Royale," Skyfall follows that reboot's lead, making a now 50-year-old icon as cool as when he began.

Kim Newman, Empire
Skyfall is pretty much all you could want from a 21st Century Bond: cool but not camp, respectful of tradition but up to the moment, serious in its thrills and relatively complex in its characters but with the sense of fun that hasn't always been evident lately.

O filme começa de forma alucinante - na Turquia. Os agentes Bond e Moneypenny   (Naomie Harris) perseguem um assassino profissional - Patrice, que matou um agente do MI6 e roubou um disco com informações confidenciais acerca dos agentes secretos da OTAN que estão infiltrados em organizações terroristas mundiais. No meio desta perseguição, Bond é ferido, dado como desaparecido e provavelmente morto em serviço. 
Mas o agente secreto sobreviveu, viveu prazeres mundanos, adoeceu e envelheceu. Sim... 007 é humano. 

Com a fuga da identidade dos agentes, o MI6 vê-se envolvido em conflitos internos - o novo presidente do "Comité de Segurança" - Gareth Mallory (Ralph Fiennes), pressiona M (Judi Dench) a abandonar o cargo - num processo de reforma forçada. Mas além da fuga de informação, o edifício mais seguro de Inglaterra, o edifício onde esta sediado o MI6 sofre uma violenta explosão, vários agentes morrem e o sistema informático é invadido 

Bond (no meio do nada) tem acesso a esta noticia e decide ressuscitar. Depois de resistir e "passar" aos testes físicos,  depois de conhecer as novas instalações do MI6, encontra o novo Q (Ben Whishaw). O encontro de Bond com Q em frente às pinturas de William Turner é absolutamente incrível  Com um forte carácter cômico  a conversa é como que uma passagem de testemunho de uma agência datada cronologicamente, em que existiam objectos fantásticos criados para estarem ao serviço dos agentes especiais, para a simplicidade da tecnologia do século XXI. A prova de que a juventude e a tecnologia, aliada à experiencia e sapiência dos mais velhos faz a diferença e garante de sucesso. 




Já na posse da sua arma digital e do seu rádio, Bond parte para Xangai à procura de Patrice e da "organização" que está por detrás das acções do mercenário. As cenas filmadas em Xangai são absolutamente fabulosas. As cores, as luzes, a majestade dos edifícios dotam o filme de momentos impares e a fotografia de Roger Deakins é simplesmente incrível. 

Obviamente James mata Patrice, e como não podia deixar de ser, a morte dá origem ao aparecimento de mais perguntas. Bond segue o rasto até um casino em Macau. Como seria de esperar no casino encontra dragões de Komodo e uma mulher lindíssima - a sofrida Sévérine (Bérénice Marlohe) que ostenta um vestido com 60 mil cristais Swarovski. Depois de um diálogo sexy com a enigmática estranha, Bond luta com os seguranças, alimenta os dragões e com a ajuda da agente Moneypenny, consegue sair ileso do casino e vai tomar banho com Sévérine num luxoso barco. 
O objectivo de Bond é encontrar o terrível patrão de Patrice, recuperar a lista, livrar o MI6 dos ataques informáticos e terroristas e principalmente salvar a M. 

O barco leva Sévérine e Bond a uma ilha deserta (um cenário absolutamente arrematador) e é apresentado ao temível Raoul Silva (Javier Bardem). Estava a fazer tanta falta à saga Bond um vilão digno da palavra. Quem melhor para vilão, do que um ex agente do MI6, com sentido de humor, cabelo oxigenado, tiques homossexuais e problemas afetivos dignos de uma consulta com Freud.  Bardem é absolutamente fabuloso. O rosto de Bardem - já bastante afectado pelo silicone na vida real - está caracterizado de forma genial. De forma até estranha antes de percebemos "o porquê". 




Na ilha, Bond é feito prisioneiro, é assediado e percebe a história triste de Silva e o seu ódio a M. Notem que neste momento fica claro que o MI6 não é uma instituição perfeita e muitas vezes, nem sempre trata da melhor forma os seus agentes. Bond sabe, sofreu-o na própria pele.  Sévérine é morta, mas o agente especial, consegue escapar e aprisionar Silva. 






Já em Londres, na nova sede do MI6, M confronta friamente Silva, que mostra mais uma vez o seu ódio pela organização que serviu durante anos, e que o traiu, e mostra (incrivelmente) aquilo que a ingestão cianeto provocou.
Q tenta descodificar a informação contida no computador de Silva, mas a "missão" tem um sentido reverso e   mais uma vez o sistema informático da organização é invadido. Há uma falha na segurança e Silva foge. Obviamente que o alvo é da ira do vilão é M e Silva leva a cabo uma perseguição implacável.  
Bond salva M e no seu mítico Aston Martin vão para a Escócia. É deixado propositadamente um "rasto informático" a Silva sobre a localização de ambos. 

Em plena Escócia, numa paisagem carregada pelo vazio e pelo nevoeiro (digna de uma quadro de Turner), Bond revive o seu cruel passado. A importância da palavra / expressão Skyfall é revelada - é a casa da sua família, o símbolo da perda dos seus pais e da sua infância. Na casa velha, reencontra Kincade (Albert Finney), o zelador da casa. Com a ajuda deste, Bond e M, utilizam os poucos recursos de que dispõem para preparem-se do ataque de Silva e dos seus homens. 
A um ritmo aliciante decorre o confronto. Tiros, dinamite, granadas e um helicóptero fazem parte de uma batalha violenta que finda com a morte de M e de Silva.

Correndo o risco de me repetir, Skyfall é a prova que Daniel Craig é um excelente Bond, é a prova da humanidade do agente, do seu humor e do seu envelhecimento. É um ponto de viragem na história / dinastia Bond. Sem mulheres fatais, sem lamechices amorosas, sem martinis, com cerveja e whisky. Com correrias no metro, mas estradas e não em naves espaciais ou espaço sideral. Há um novo Q, um novo M, um novo espaço, novos vilões - os comuns mortais e não o comunismo, os vírus mortais ou a ameaça terrorista. Será este o inicio de uma preparação subtil para mudanças mais profundas? 
Está confirmado que Daniel Craig será Bond em mais dois filmes, mas será este envelhecimento do agente em Skyfall, o principio do fim e um "catolicismo 0.5" para o aparecimento de um novo Bond - sim penso nos rumores em torno de Idris Elba
Uma coisa é certa, Skyfall elevou a fasquia Bond, agora resta-nos aguardar pelo próximo...





Duas notas:  gostei de ver mais "tempo de antena" de Tanner (Rory Kinnear) e se já antes achava inapropriada a escolha de Adele como interprete da música principal do filme, depois de o ver confirmei. No meio de um genérico mergulhado no onírico, no limbo, na fronteira vida/morte, recheado de símbolos associados à morte e à vida - uma voz mais forte e uma música mais "agressiva", faria muito mais sentido.  




"Some men are coming to kill us.
We're going to kill them first." 

                                              James Bond




Sem comentários:

Enviar um comentário