14/11/2012

Argo (2012)


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texto original em Cine31




Sub-título: o filme que me fez esquecer Skyfall
Sub-título do sub-título: Argo fuck yourself!


Antes de ousar falar do filme só três apontamentos:
- O orgulho imenso em ver uma boa investigação histórica e o facto desta mesma investigação, bem como a  documentação usada na pesquisa ter um papel determinante e visível no filme;
- Obrigado aos Deuses pela incrível criação da política de sigilo - sempre paralela à História da Humanidade. 
- Na mitologia grega, Argo, foi a embarcação em que Jasão viajou com os argonautas. Era de madeira (madeira esta que acabou por matar Jasão) e foi construída com a ajuda da deusa Atena.




Contexto: 

  • Revolução Iraniana
Em 1979 ocorreu a revolução islâmica, na qual as diversas correntes de oposição ao  (título dos monarcas da Pérsia) Mohammad Reza Pahlavi uniram-se sob a liderança do aiatolá (o mais alto dignitário na hierarquia religiosa e descendente direto de Maomé) Ruhollah Khomeini - na altura exilado na França. O governo não conseguiu controlar a insurreição e, em janeiro de 1979, o xá Reza Pahlevi fugiu do país. O primeiro-ministro Shapur Bakhtiar tomou o poder e as forças militares juntaram-se aos  revoltosos. O aiatolá regressou triunfalmente a Teerão a 1 de fevereiro de 1979 e, dez dias depois, assumiu o poder, com a renúncia e fuga de Bakhtiar.
A 1 de abril, o Irão foi declarado oficialmente uma república islâmica, cuja autoridade suprema é um chefe religioso (o próprio aiatolá Khomeini). Para a chefia executiva do governo foi eleito presidente da República, em janeiro de 1980, Abolhasan Bani-Sadr, um dos líderes da oposição laica ao governo do xá. 

  • A Crise dos Reféns 
Foi na sequência de uma crise diplomática entre o Irão e os Estados Unidos, que 52 norte-americanos foram mantidos reféns por 444 dias (de 4 de novembro de 1979 a 20 de janeiro de 1981), após um grupo de estudantes e militantes islâmicos tomarem a embaixada americana em Teerão, num apoio claro Revolução Iraniana.
Assim, a 4 de novembro de 1979, a embaixada dos Estados Unidos no Teerão foi tomada e 52 norte-americanos foram tornados reféns, sendo que 6 conseguiram fugir e ficam escondidos na residência oficial do embaixador canadiano.  Os revoltosos foram apoiados pelo governo iraniano e várias exigências foram feitas, sendo a maior - a  extradição do xá, que na ocasião estava exilado nos EUA. O governo norte-americano congelou os bens iranianos no país. E seguiram-se algumas falhas diplomáticas e militares na tentativa de recuperar os reféns. 





Argo: a História dentro da História. O filme dentro da História. A História do filme

As ruas de Teerão estão cheias de iranianos revolucionários. O pedido de extradição do xá não acontece. Jimmy Carter - o então presidente dos Estados Unidos, não aceita o pedido iraniano. O clima de insegurança cresce, os iranianos invadem a embaixada americana, desrespeitando qualquer sentido diplomático que pudesse existir. A invasão de uma embaixada, é a invasão a um país. 
Quando falha a política de diplomacia, entram em campo as forças especiais. O foco das atenções vão para os seis reféns que estão escondidos na residência do embaixador canadiano - pois se estes forem descobertos, a execução é certa. 
A missão de recuperar estes seis reféns é quase impossível. O território é inóspito  a segurança tem níveis máximos, o fanatismo religioso associado à política e o ódio aos americanos torna o Irão uma espécie de  "território bomba".  
Depois de engendrarem um plano quase surreal, a CIA envia para o terreno um agente especialista em fugas -  Tony Mendez (Ben Affleck). Um filme de ficção cientifica será o disfarce para o resgate. É sobretudo a missão de um único homem, perante uma imensidão de muçulmanos irados, para resgatar 6 seres humanos. 

É totalmente excitante ver e escrever sobre algo que até 1997, a sua existência era negada, mas que  esteve sempre a pairar na História como uma missão secreta que juntou o governo americano, os serviços secretos e a máquina de fazer filmes - Hollywood. Foi o Presidente Clinton que tornou o processo público. 
George Clooney comprou os direitos e depois de um processo moroso, juntou esforços com Ben Affleck - que realizou e encarnou o agente Tony Mendez. 
Muitos são aqueles que argumentam que o filme é uma ode aos americanos e é caracterizado por um patriotismo descarado ao "Tio Sam". Discordo. Os mais atentos repararam de certeza que não são omitidos os erros dos americanos no processo de evolução democrática do Irão. Sobretudo aqueles que dizem respeito ao petróleo. 
Argo é um thriller intenso. Não temos violência ao desbarato, temos um jogo psicológico intenso que não dá ao espectador um minuto de descanso. As cenas no mercado e no aeroporto, são de um sufoco quase insuportável. 

Filmado na Turquia, foi envolto em alguns problemas, dada a constante instabilidade no Médio Oriente. Acrescenta uma vertente fictícia à história real. Ben Affleck é já apontado por muitos como um candidato ao Oscar. O filme é recheado por um elenco de peso, sendo que John Goodman e sobretudo Alan Arkin merecem um destaque especial. Cada cena em que Arkin entra é uma ode ao cinema. 
Um destaque aos créditos finais do filme. A justificação (através de documento áudio de Jimmy Carter sobre o porquê da negação da existência da "missão Argo" e a investigação documental que serviu de base para o argumento do filme. 
Já que se fala tanto em "patriotismo" americano perante a temeridade iraniana,  deixo uma especial chamada de atenção ao papel do Canadá no filme - não vos parece que esta posição é que é a "pedra no sapato" na diplomacia americana? A mim quis parecer!




Jack O'Donnell: Carter said you were a great American.
Tony Mendez: A great American what?
Jack O'Donnell: He didn't say.  


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