O último episódio da sexta temporada de Game of Thrones foi extraordinário. Histórias foram reveladas, medidas foram tomadas, mortes aconteceram. Recebemos detalhes minuciosos e não acessíveis a um olhar que não esteja treinado ou que não conheça os trâmites das dinastias, dos seus símbolos, das suas alianças e da diplomacia ou da ausência dela. Ao longo deste episódio deslumbrante há um renascimento absolutamente notável: o de Cersei Lannister.
Tal como tantas outras personagens de Game of Thrones, a bondade ou a maldade de alguém é passível de estudos psicológicos. Cada personagem é um desafio para a análise do comportamento humano. Quantas vezes damos por nós a ansiar pela uma morte de alguém. Quantas vezes justificamos, aplaudimos torturas ou a mais fria das vinganças. Este é um dos maiores encantamentos da saga (quer dos livros, quer na série). Passamos rapidamente do amor ao ódio, do ódio ao amor e tal como na vida real, a bondade e a humanidade escasseiam. Ninguém é verdadeiramente bom, todos têm uma causa e todos lutam por objectivos. Até aqueles que servem de intermediários entre os Homens e os Deuses, são corruptos.
Cersei é uma das pecas principais nesta guerra pelo Trono. Começamos por odiá-la, aprendemos a teme-la e ao mesmo tempo respeitamos a sua forma de ser, de estar e de agir. Foi um choque percebermos que mantinha uma relação incestuosa com o irmão e que dessa relação nasceram filhos. Mas estranhamente habituamo-nos à ideia. Talvez tal facto se justifique pela humanização que Jamie Lannister foi sujeito durante o avanço do argumento, ou talvez simplesmente pelo facto de que até ao Domingo passado acreditamos que Cersei amava o irmão como homem, como familiar, como militar e amava sobretudo os filhos.
Por muito que odiássemos a Rainha Mãe, ansiamos pela sua vingança. Sabíamos que ia acontecer. Pensámos nas mais variadas possibilidades, mas quando chega o momento de assistirmos à verdade, o fascínio pela vingança volta a dar lugar ao medo.
No episódio 10 da sexta temporada, Cersei é causadora de um rácio abismal de mortos e pelo pior dos pesadelos de uma mãe digna - a morte do seu último filho. Sim, esta última morte até pode ter sido um acidente mas a forma como a Lannister reagiu, deixa uma margem (larga) de dúvida.
É nos minutos anteriores ao explosivo acontecimento que vimos a destemida mulher transformar-se em algo ainda mais temível. A Rainha Mãe torna-se na Rainha dos Sete Reinos. Acontecimento que além de ser acompanhado por um banho de sangue é ilustrado com a utilização de um guarda roupa especial e de uma jóia feita à medida para a ocasião.
Coroada e Senhora do Trono de Ferro, Cersei usa como símbolo da autoridade "monárquica" uma peça que é mais do que aquilo que aparenta. A designer Michele Clapton disse numa entrevista à Vulture: "I chose to make it in silver with just wisps of gold to try to show her isolation, her mental disentangling from her family," (...) "There is no reference to [her late husband, Robert] Baratheon; there is no need anymore. She doesn't have to try and prove a link. The center of the crown is the lion sigil abstracted—its mane represents the Iron Throne, her desire. She has made it her own—she is reborn."
Ao longo das temporadas, Michele foi colocando mais jóias em Cersei. O significado desta decisão estética não é inocente, é um sinal que a mulher está cada vez menos confiante e neste último episódio o contraste é gritante no que à sua aparência final diz respeito. O último look da Rainha é essencialmente estéril de qualquer jóias com excepção da sua coroa. Cersei está "morta por dentro" e é espelho dos seus únicos desejo: o trono e consequentemente o poder máximo.
Para marcar o momento triunfal da personagem, a figurinista Michele Clapton deu a Cersei um vestido arrematador. Feito em couro "leve" de corte italiano (de D'Alessio Galliano) com brocado prata e preto (da Altfield). Há uma relação clara entre o vestido de Cersei com as roupas cerimoniais do seu pai Tywin Lannister - sobretudo no que há utilização da pele diz respeito e nos ombros, a utilização das peças em prata são uma relação óbvia com a mão de ouro de Jamie Lannister.
Sobre a escolha do preto, Clapton disse: “Yes, it is for mourning her children, her father . . . but it’s more than that. To me, it represents a deadness inside her—the overwhelming desire for power at any cost. The multi-layered effect created by mounting the leather onto silver brocade gives a more complex feeling, implying that nothing achieved is ever simple.”
Cersei Lannister renasceu. Agora, resta-nos esperar para ver o que o futuro reserva à Rainha que pelo olhar abismado do irmão enquanto assiste à coroação, tenho em crer que vamos assistir ao nascimento de uma Mad Queen, digna sucedânea (no que à loucura diz respeito) de Aerys Targaryen.
"I now proclaim Cersei of the House Lannister,
First of Her Name, Queen of the Andals
and the First Men, Protector of the Seven Kingdoms.
Long may she reign."
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