31/05/2013

Um filme, uma mulher. Por Aníbal Santiago





Filme: Moulin Rouge! Mulher: Satine
(IMDb)




Diamante cintilante que ilumina a alma daqueles que se aproximam da sua sensual pessoa, Satine é a cortesã que aquece o coração de Christian e incendeia o Moulin Rouge com a história do amor proibido entre ambos no mítico local parisiense, em “Moulin Rouge”, um musical realizado por Baz Luhrman. Neste breve texto não vou escrever uma crítica ao filme, divagar sobre a carreira de Luhrman, sobre o casal de protagonistas ou até sobre os seus actores, mas sim sobre Satine, no âmbito da iniciativa do blogue Girl on Film, intitulada “Um Filme, Uma Mulher”.

Satine não é o protótipo da figura feminina moderna e independente, mas sim uma cortesã do Moulin Rouge, que inicia uma relação com Christian, um escritor para quem na vida o que interessa acima de tudo é o “amor”. Curiosamente, para Satine o que interessa mesmo é uma vida luxuosa na qual não terá de passar fome, uma vida requintada que o Duque lhe pretende oferecer em troca da sua “posse”. Enquanto desenvolvem uma peça que promete encantar o Moulin Rouge, Christian e Satine encantam-se e encantam, ao mesmo tempo que lidam com uma série de contratempos numa relação que parece fadada à desgraça.




Seleccionar uma figura feminina para esta rubrica é uma tarefa que se revelou assaz complicada. Escolher uma mulher que represente a independência em relação à figura masculina? Escolher uma heroína mais dependente do homem? Uma trágica? Uma devassa? A escolha acabou por recair numa mulher que no fundo acaba por albergar um pouco de todos estes elementos. Com uma história trágica, esta revela-se aparentemente desprovida de sentimentos em relação à figura masculina estando mais preocupada com diamantes e luxo, mas logo acaba por ceder à paixão irreverente e louca. É frágil e ao mesmo tempo forte, sendo capaz de desafiar as regras do Moulin Rouge estabelecidas por Harold Zidler. É sensual e quente, mas ao mesmo tempo doce e simples, conquistando o protagonista e deixando-se conquistar pelos seus ideias, estabelecendo com este uma relação de dependência de afectos, recheada de um clima de urgência ardente. E lá no fundo é uma devassa como podemos ver logo de início quando se prepara para vender o seu corpo ao Duque, embora ao mesmo tempo esteja sempre presente que esta é a única maneira da mesma sair da miséria, ou seja, existe toda uma complexidade inerente à personagem que a torna como uma figura que considero caber nesta rubrica.




Magnificamente interpretada por Nicole Kidman, naquela que é uma das actuações mais vigorosas da carreira da actriz, Satine mais do que uma mulher frágil e dependente, representa o amor louco e impossível. Esta canta, dança, emociona, comove, encanta, deslumbra, irrita e não nos deixa indiferente, enquanto sucumbe ao amor. É difícil olhar para Satine e ver nesta apenas uma figura feminina dependente, sobretudo se pensarmos que quem mais depende desta é a figura masculina, cuja vida se transforma com a sua presença. É na história de amor de Satine e Christian que se centra grande parte do enredo de “Moulin Rouge”, mas é esta bela mulher que muda a vida do protagonista e de grande parte dos personagens que a rodeiam, enquanto Baz Luhrman desenvolve um musical marcante.

Muitos outros exemplos poderiam ter sido escolhidos para este post, mas Satine parece encaixar que nem uma luva numa mulher cuja dependência não está tanto na figura masculina, mas sim no amor. Claro está que poderiam ter sido escolhidas mulheres cuja opção de vida não passa por aí, mas não poderia deixar de lado nesta rubrica aquela que é uma das minhas personagens femininas de eleição. Com um conjunto de números musicais marcantes, um trabalho de fotografia digno de relevo, um conjunto de cenários e guarda-roupa estonteantes e deslumbrantes, “Moulin Rouge” surge como um dos musicais mais relevantes da primeira década dos anos 2000, uma obra sobre “um lugar, uma história sobre as pessoas. Mas, acima de tudo, uma história sobre amor”.

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