02/12/2013

Opinião | The Hunger Games: Catching Fire | Francis Lawrence. 2013

Título em Portugal: Os jogos da fome: em chamas
Data de estreia: 28.11.2013




Um ano após a vitória da 74 edição dos Hunger Games, Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) e Peeta Mellark (Josh Hutcherson) são obrigados a fazer uma espécie de digressão por todos os distritos - a que se dá o nome de Victory Tour. Esta tourné é assombrada pela ameaça sobre a vida de Everdeen e a vida daqueles que lhe são próximos que o Presidente Snow (Donald Sutherland) fez. Snow não perdoa a rapariga pela ousadia que demonstrou ao tentar o suicídio com Peeta. Medida extrema que serviu como mote para que ambos terminassem o Jogo vivos e vencedores. Para o Presidente, Katniss desafiou-o, forçando-o a alterar as regras do jogo e ao mesmo tempo provocar uma rebelião entre o povo.

Snow exige que durante a digressão, Katniss e Peeta mostrem como o seu amor é real e que a rapariga se mostre submissa. Deve partilhar a mensagem do regime e acalmar as inflamadas hostes. Mas Katniss não consegue, e mantendo-se fiel a si própria, interfere mais uma vez, mostrando a sua valentia e ousadia, incita (ainda que sem plena consciência disso) a que o povo menosprezado e mal tratado pelo poder, mostre o seu desagrado e tente a revolta.

A forma que Snow encontra para travar Katniss é a de voltar a fazer uns jogos que só se podem realizar a cada 25 anos, denominados Quarter Quell. Nesta versão dos Jogos, os concorrentes serão os vencedores das edições anteriores.

A Katniss e Peeta junta-se novamente Haymitch (Woody Harrelson) e Effie (Elizabeth Banks). Alianças são feitas e planos são traçados. De um lado o desejo de ver Everdeen morta é grande, do outro, surge a ânsia de fazer dela, símbolo de liberdade e luta pela sua sobrevivência.



Tenho plena consciência que não sou a pessoa mais isenta do mundo para escrever sobre o filme, pois a minha opinião sobre o primeiro não é propriamente positiva. Também tenho o handicap de não conhecer os livros e de poder ser injusta no julgamento daquilo que não domino profusamente. Mas, com tanta campanha de marketing, com tanto uso da imagem de Jennifer Lawrence, seria de esperar mais, muito mais desta sequela dos “jogos em dieta”.

Infantil, cansativo, histérico. Uma pena e desperdício, se tivermos em conta as metáforas que o filme aborda, mas que teme em aprofundar. Esta sequela de The Hunger Games crítica mais uma vez os regimes totalitaristas, aborda a opressão política e policial, aponta o dedo ao poder e manipulação dos media. Defende uma espécie de sindicalismo e de união dos oprimidos mas infelizmente só aborda levemente, porque o conteúdo é oco.

A prova máxima deste vazio? A necessidade brilhante de nos distrair com cenários, com roupas, acessórios e maquilhagem. Esta bricolage do filme é exímia e extremamente bem pensada. No entanto, as cores e o exagero das vestes são um deslumbre visual e nada mais do que isso. Servem para que - tal como o pavão que utiliza as penas coloridas e vistosas para atrair a fêmea – o público seja iludido e distraído com coisas importantes, mas não decisivas para o enredo.  

O elenco de luxo é mal aproveitado. Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Stanley Tucci e Philip Seymour Hoffman são muito pouco aproveitados. O trio amoroso Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson e Liam Hemsworth têm tanta empatia entre si como um cubo de gelo num copo de vinho verde tinto, ou seja, nenhuma. Outros personagens foram apresentados de forma mais rápida que um carro de fórmula um e mortos ao ritmo de um Falcon HTV-2 em pleno cenário de guerra. E eu que tinha tanta esperança na menina dos dentes afiados!

Simpatizo muito com Jennifer Lawrence, no entanto, defendo que a infantilidade, inocência, distracção e até idiotice que a rapariga tantas vezes nos tem mostrado – nos mais variados momentos - fazem com que não consiga dotar a personagem Katniss Everdeen de seriedade, ou de alegria genuína. Caretas, expressões forçadas, ausência de ligação afectiva às outras personagens, fazem com que a relação entre o espectador e personagem principal atinja momentos de verdadeiro suplício.

Parece-me que estes filmes da saga Hunger Games anseiam por igualar a novela Harry Potter, no entanto só a vence no que aos figurinos diz respeito. Chamas? Só mesmo nos vestidos de Lawrence.




 Nota:


2 comentários:

  1. Por acaso não sendo um filme muito bom, considero-o um bom filme. Nem infantil, nem cansativo, nem histérico. Mescla um visual arrojado (no guarda-roupa e no visual televisivo), próprio de muita ficção científica como é o caso de Hunger Games, com um drama sério, emocionante e intenso, traçando metáfora ao que bem referiste. A metáfora e a história pareceria ridícula - cheguei a pensar isso - mas depois lembrei-me de Hitler e da exterminação dos Judeus. Depois basta lembrar-nos de como os media, em especial a TV ou o formato do reality show, podem ser usados tão bem para encobrir e servir os propósitos de um regime tão hediondo. Poderia acontecer (a ficção científica imagina sempre um cenário).
    Os atores estão muito bem, sobretudo Jennifer Lawrence e Josh Hutcherson. A prova de que estes jovens foram acertadas escolhas de elenco, entregam-se aos papéis conferindo-lhes credibilidade. O elenco secundário assugura também a qualidade, se excetuarmos aqueles adversários dos jogos que são devorados com a mesma velocidade com que aparecem.
    Os efeitos digitais nem sempre são os melhores, veja-se a cidade criada... mas há quem se distraia no visual? Talvez... Mas se não sente ou não se apercebe da história e dos seus méritos, também acho estranho... ainda mais neste segundo episódio da saga. Não creio que tentem igualar Harry Potter - com uma história tão distinta, em que poderiam? (talvez no boxoffice, mas quantos não o querem?; afinal, isto é cinema comercial e se notarmos a produtora não tem nenhum franchise com o poder dos franchises da Warner, da 20thFox, etc.).
    Por isso desta vez não me revejo na tua opinião, como acontece quase sempre! :)

    Cumprimentos cinéfilos!
    Roberto Simões
    cineroad.blogspot.com

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