31/12/2014

Marco Polo | Um deleite visual



Numa breve pesquisa pela Internet reparei no facto curioso de que as opiniões se dividem entre o ódio e o amor. É estranho o ódio. Só podem sentir essa antipatia extrema aqueles que esperavam que a Netflix contasse palavra a palavra O Livro das Maravilhas de Marco Polo ou centrasse o argumento da série unicamente na figura histórica do italiano. 

A meu ver, é precisamente o facto de não centrar as atenções na figura do viajante veneziano que dota a série de interesse. Polo é uma das personagens principais, não é a única. Marco Polo é menos sobre Marco Polo e mais sobre política, guerra, espionagem e intrigas palacianas na Ásia antiga. Portanto, os mais críticos não devem esperar uma ode à imposição das ideias europeias num mundo oriental do século XIII.

Em Marco Polo há nudez, figurinos sumptuosos e deslumbrantes, cenários espectaculares e uma fotografia exímia. Estas podiam ser as quatro únicas razões para recomendar a adaptação televisiva da eterna história de Marco Polo, mas seriam insuficientes. Existe algo mais. Existe um elenco absolutamente espectacular e uma visão magnífica sobre aquele que foi o quinto Grande Khan do Império Mongol – Kublai Khan – o imperador (Khagan) que recebeu o viajante Marco Polo na sua corte.

O desconhecido Lorenzo Richelmy interpreta Marco Polo. Tarefa difícil perante tanto a observar. Talvez culpa da sua inexperiência ou simplesmente porque interpreta aquilo que lhe foi pedido, a personagem de Lorenzo é abafada pelo elenco com genes orientais que é absolutamente excepcional. Todas as atenções desta primeira temporada são cativadas para a excelência da interpretação de Benedict Wong como Kublai Khan e Chin Han como Jia Sidao – dois inimigos: um mongol, o outro chinês. A Richelmy como Marco cabe essencialmente o papel de ser uma testemunha num Mundo novo, tal como nós.














É muito agradável ver o inglês Benedict Wong interpretar de forma tão simples e sem qualquer esforço o Khan. Por detrás de uns quilos a mais, da barba, do característico corte de cabelo e das vestes luxuosas conseguimos ver um líder de alma e coração. 

Khan de Benedict Wong é uma espécie de líder gangster feio, mas bonito. Com princípios, astúcia e uma vida pessoal intensa. O seu desejo de governar o mundo está sempre presente nas suas acções mas a sua visão de uma sociedade pluralista e aberta (ou a ilusão dela) faz dele um déspota muito atraente. Uma menção a Joan Chen como a Imperatriz Chabi, que é um ponto-chave na política interna palaciana e a personificação do interesse que a série tem em mostrar a posição de poder que algumas mulheres na Mongólia e na China do século XIII tinham. 

Já Chin Jan - que foi considerado pela CNN um dos 25 melhores actores da Ásia – interpreta a figura de um chanceler chinês temível para os inimigos, mas sobretudo para com aqueles que lhe são mais próximos. Jia Sidao é cruel, obcecado por insectos e um vilão exemplar. A relação com a irmã – e concubina - Mei Lin (Olivia Cheng), que usa como espia contra o Khan é um dos pontos mais importantes desta primeira temporada. 

A lindíssima Mei Lin, deslumbra várias vezes o espectador com a sua nudez, audácia e perícia na arte do amor e do Kung Fu. É protagonista de momentos memoráveis. 

Marco Polo não será certamente a série que permita à Netflix ter um concorrente de peso à popularidade de Game of Thrones. Não é tão épica e apesar das inúmeras mortes, não é sequer tão emocionante mas se aceitarmos Polo com os seus próprios termos e características, os espectadores não ficarão decepcionados e podem, de forma bastante simples, observar uma cinematografia muito competente e podem sobretudo atingir um nível de divertimento competente e mergulhado em luxo e estética oriental. 




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