10/02/2015

The Drop | Michaël R. Roskam. 2014

Título em Portugal: O Golpe: The Drop
Data de estreia: -

















Realizado por Michaël R. Roskam, The Drop tem como personagem principal – Bob (Tom Hardy), um tímido empregado de bar que trabalha no “pub” do primo Marv (James Gandolfini). Este bar é utilizado pela máfia de leste para “lavagem de dinheiro” e esta simples menção podia ser suficiente para ser a história central do filme, mas não é. 

The Drop centra-se no passado de Bob. História que é magistralmente apresentada de forma progressiva e através de diálogos casuais. As pistas são dadas discretamente: as idas à Igreja, (onde assiste à missa sem comungar) ou através do simples facto de Bob enrolar uma parte desmembrada de corpo humano em papel celofane como se estivesse a embrulhar um chouriço de cebola de Ponte de Lima para oferecer à prima Miquelina no Natal. 

Ao espectador é transmitida uma certa desconfiança sobretudo através dos diálogos e gestos entre Tom Hardy e James Gandolfini. A personagem de Hardy parece ter uma espécie de “autismo” em que momentos de profunda sensibilidade parecem não coincidir com alturas em que a personagem é sujeita a algo mais ríspido e Bob reage como se fosse a coisa mais natural do mundo. 






























Todo o elenco é competente. Aliás, se assim não fosse, este filme não fazia sentido. Dificilmente alguém ia ver mais de 10 minutos que fosse se não tivesse Tom Hardy, James Gandolfini, Noomi Rapace, Matthias Schoenaerts, John Ortiz. Não existem desempenhos ocos ou falsos, todos estão em afinação perfeita. 

Mas inevitavelmente o destaque tem que ser dado a Tom Hardy. Hardy não é um actor talhado para “ballets” de diálogos ou dado a monólogos de divagações metafisicas. Tom é um actor de poucas palavras, de tom de voz característico, encorpado e expressivo à sua maneira. Com Bob, todas estas características foram aproveitadas e bem. A performance de Hardy é de classe. Também Gandolfini prova como será sempre o Tony Soprano, sem que isso seja negativo ou prejudicial para o argumento ou resultado final.

Ao longo dos cerca de 100 minutos do filme, parece claro que Roskam deu liberdade interpretativa aos actores. The Drop não depende de manipulações ou de altas tecnologias e o facto de ser um filme “pouco cozinhado”, faz com que as personagens sejam reais, vulneráveis e cruas. O argumento de Dennis Lehane usa como cenário principal uma Brooklyn fria e perigosa e Bob é produto desse ambiente. O argumento é glorioso ao espalhar detalhes, como peças de puzzles que cabe a nós, espectadores, desvendar. No entanto, por muito que tentemos unir as peças  e apesar de termos a verdade quase que espelhada à nossa frente, temos esperança que o nosso instinto esteja errado, porque Bob é o ser humano fofinho que salvou o cachorro mais giro à face do Planeta Terra da morte. 

The Drop tem um ritmo lento, usado de forma deliberada para construir uma espécie de suspense. É um filme de personagens que constrói cada cena com diálogos intensos e actuações fantásticas, complementadas por um capaz guarda-roupa e cenários reais. É um filme para amantes da 7ª Arte. Tem tudo: um fabuloso elenco, uma grande realização, diálogos excepcionais e uma simples mas muito competente cinematografia. 

O único ponto negativo: pouco Matthias Schoenaerts. 























There are some sins that you commit that you can’t come back from, you know, no matter how hard you try. You just can’t. It’s like the devil is waiting for your body to quit. Because he knows, he knows that he already owns your soul. And then I think maybe there’s no devil. You die… and God, he says, Nah, nah you can’t come in. You have to leave now. You have to leave and go away and you have to be alone. You have to be alone forever.
 - Bob


Nota:


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