A Netflix mudou e continua a mudar o modo “de ver televisão”. À novidade e rebeldia na programação, juntaram um factor essencial para os fãs da ficção televisiva – o de disponibilizarem de imediato e na íntegra temporadas completas.
Fazem parte da programação do serviço de streaming séries de qualidade superior como House of Cards ou Marco Polo, irreverentes como Orange is The New Black ou ainda séries que tiveram um passado noutros locais como The Killing ou Longmire.
Com Bloodline, a equipa Netflix voltou a apostar na novidade e na qualidade. É um drama noir de características familiares e recheada por interpretações soberbas. A segunda temporada já foi anunciada mas para os mais descrentes este argumento não chegará. Assim sendo e para aqueles que estão em dúvida sobre se devem ou não ver Bloodline, irei dar-vos cinco razões para verem a série.
Mas em primeiro lugar, um breve resumo:
Bloodline conta a história de uma família conceituada e respeitada nas Florida Keys. Neste cenário paradisíaco existem três irmãos que estão unidos através de laços sanguíneos e de segredos. Segredos estes que tiveram implicações no passado e que interferem no presente de cada um deles. Também o futuro se torna ameaçador quando o quarto irmão - a “ovelha negra da família” - regressa a casa.
O ELENCO
Enquanto ouvimos The Water Lets You In dos Book of Fears como banda sonora dos créditos iniciais e lemos os nomes que vão passando pelo genérico identificamos alguns nomes conhecidos. Fazem parte da família Rayburn nomes incontornáveis como: Sissy Spacek que é a matriarca Sally Rayburn, Sam Shepard interpreta o patriarca do clã Rayburn – Robert. Linda Cardellini é Meg, a mais nova da família. Kevin Rayburn é interpretado por Norbert Leo Butz - o mais novo dos rapazes e para completar a apresentação da família: Kyle Chandler como John e Ben Mendelsohn como Danny Rayburn. Depois como elenco de apoio há Chloë Sevigny, Jacinda Barrett e Jamie McShane entre outros.
Não posso aprofundar em demasia as características das personagens e por isso vou tentar não cometer grandes inconfidências. A mãe – uma crente na inocência de todos, uma cooperante na perpetuação do segredo. Robert Rayborn, o pai – um homem que do nada criou um “império” mas cujo sucesso e trabalho árduo em nada contribuíram para ter uma vida mais alegre e realizada.
Meg é uma jovem advogada, com uma relação estável, mas inconformada com a estabilidade laboral e pessoal. Kevin é instável, de cabeça quente e com problemas de dependências. John é um detective, pai de família. O cuidador de tudo e de todos. Cabe ao Danny de Ben Mendelsohn ser o principal vilão da história. O culpado pelo passado, o atormentador do presente, o perigo do futuro. Uma ameaça para os outros e sobretudo para si próprio.
Cada actor foi escolhido ao detalhe. A simbiose e empatia entre todos é inquestionável e totalmente credível. O que cada um destes nomes dá à série é inquestionavelmente bom, competente e sobretudo dramático.
O elenco é o alicerce central da série. As nomeações de Kyle Chandler e Ben Mendelsohn para os Emmys nas categorias de Melhor Actor principal em séries dramáticas e em Melhor Actor secundário em séries dramáticas (respectivamente) são totalmente merecidas e justificadas.
O CENÁRIO
Filmado na Flórida, a cidade de Islamorada é a personagem principal da série. É neste sítio paradisíaco, com praias deslumbrantes e um mar digno de uma pintura Realista que decorrem todas as acções, até as mais dramáticas. Ao longo dos vários episódios somos deslumbrados com um paraíso mas nunca podemos esquecer que até estes sítios maravilhosos abrigam segredos bastante desagradáveis e tristes.
A série foi filmada em pleno verão. A intensidade do calor faz parte do argumento. Os criadores usaram esse aspecto para dar à mesma um toque de realidade – os actores estão a transpirar porque o calor e a humidade são uma presença que não pode nem deve ser ignorada.
A EXPERIÊNCIA DOS CRIADORES DA SÉRIE
Os mais atentos a estas coisas da televisão reconhecem os nomes de Daniel Zelman, Glenn Kessler e Todd A. Kessler. Foram eles os responsáveis pelo extraordinário thriller jurídico – Damages – com Glenn Close e Rose Byrne. Entre as duas séries há muitos paralelismos, sobretudo na forma como a história é contada – a narrativa não é linear, há um puzzle a construir e as informações por vezes são díspares ou surgem de forma lenta. Elipses temporais que obrigam o espectador a estar atento. Sabemos desde o primeiro episódio o que vai acontecer, mas só no último temos acesso às respostas, ou não.
O RITMO DO ARGUMENTO
Bloodline não prima pela acção ou rapidez no que diz respeito ao ritmo a que os acontecimentos se sucedem ou a que as revelações são feitas. As personagens e as suas histórias são descodificadas lentamente. Os porquês – aparentemente explícitos – demoram a ser decifrados. Muitos dirão que a história podia ser contada em dois ou três episódios. Podia de facto, mas não seria a mesma coisa.
Não é uma série indicada para quem gosta de resultados imediatos ou para quem não aprecia cortes na cronologia e argumento. Bloodline é para “ser digerida” de forma pausada e graciosa. O ritmo da série Netflix implica que quando algo dramático acontece, a nossa forma de reagir também não é imediata. Demoramos a processar a informação e a tentar encontrar as peças do puzzle para formar o todo. Tudo está interligado e tudo tem uma causa e uma consequência.
A INOCÊNCIA E CULPA DAS PERSONAGENS
No que diz respeito à respeitada família Rayburn, amigos e conhecidos, ninguém é 100% inocente. Em cada armário há um esqueleto escondido, seja por crimes, seja por traições, drogas, álcool ou simplesmente por más decisões. É o que cada personagem vai ou não vai fazer para evitar que esses segredos sejam expostos que realmente serve como um vislumbre da sua verdadeira natureza. O egoísmo de algumas decisões e a necessidade de manter aparências dotam todas as personagens de características obscuras. Na verdade, não fica claro se os resultados das suas acções acabarão por ter um resultado final claro e isso pode causar no espectador algumas dúvidas ou angústias.
“We’re not bad people, but we did a bad thing” diz John Rayburn em determinado momento e esta é frase que se torna o slogan oficial da série e não podia ser mais apropriado. Mas quanto à bondade ou crueldade das personagens cabe a cada um de nós - espectadores - julgar.
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