04/01/2016

Mustang | Deniz Gamze Ergüven. 2015




What makes the transfixing film so effective is that the director refuses to portray them simplistically, as misunderstood angels, and she has enough trust in her audience to leave the drama’s implicit feminism unstated. The story’s quiet power comes from its sensitive observation of the characters as normal, emancipated young modern women, with healthy desires and curiosities, whose supposed transgressions are imagined and then magnified in the judgmental minds of others.

- David Rooney, The Hollywoodreporter.com




Numa aldeia turca, a quilómetros de Istambul vivem cinco irmãs órfãs que estão ao cuidado da avó e de um tio. No inicio das férias de verão, as jovens irmãs resolvem ser aquilo que são: jovens. Entre brincadeiras inocentes com rapazes na praia não cumprem aquilo que seria esperado na sua posição de mulheres e muito menos na sua posição de mulheres muçulmanas. 

Depois deste acontecimento a vida destas cinco jovens vai mudar radicalmente. As mais velhas são obrigadas a casar e a casa onde cresceram e foram felizes vai ficando vazia. A vida deixa de ser tão alegre e a prisão a que são sujeitas torna-as ávidas por liberdade. 

Sim, o filme é uma história sobre a rebeldia adolescente, sobre a diferença cultural e religiosa, mas é maravilhoso e sofisticado. A história das cinco jovens irmãs aprisionadas pelos seus super protectores guardiões com consequências terríveis é o primeiro filme de Deniz Gamze Ergüven. As comparações entre este Mustang e The Virgin Suicides é inevitável, no entanto, qualquer semelhança entre os filmes - sobretudo no que diz respeito à cultura patriarcal e à natureza controladora da família é dissipada pelo factor religioso que em Mustang tem um papel determinante. 





Um dos elementos mais cativantes do filme de Deniz é a forma como somos colocados num papel de espectador voyeur da história. Seguimos sempre as raparigas, sentimos sempre a sua alegria, a sua tristeza, a sua união e sofremos com o seu afastamento. A câmara está sempre em solidariedade com as irmãs. Estamos com elas em casa, move-mo-nos com elas, vimos detalhes através de close-ups e até intuímos o que não é explicito. Este sentido de intimidade é muito forte e presente no filme. Além disso, a realizadora dota com metáforas alguns dos seus planos. Falo por exemplo da cena em que a irmã mais nova bate repetidamente com a bola à parede e que faz lembrar The Great Escape de Steve McQueen. Apesar de estarem em casa e de conseguirem ver o sol, a ideia da prisão cresce ao longo que o filme avança. O espectador sente o contexto de opressão e sobretudo de asfixia.

Outra coisa que torna o filme especial é a escolha do elenco. As cinco jovens incorporam o filme e participam plenamente no seu sucesso. São cativantes, virulentas, tristes, felizes, são pacíficas e são selvagens. São tudo de uma vez. São crianças que querem crescer e que querem ser felizes. Uma palavra especial para a pequena Güneş Nezihe Şensoy que é a alma máxima do filme. Heróica e precocemente sábia, Güneş como Lale torna-se um dos papéis mais bem escritos para um actor infantil dos últimos anos.

A história de Mustang é uma amostra de uma cultura diferente, com "Leis" em que a liberdade dá lugar à prisão em nome de um Deus. Não podemos ignorar que o cenário do filme se trata da Turquia - um país que desde 1987 que tenta ser um país membro da Europa. Por muito respeito que tenhamos sobre culturas e religiões diferentes, é muito difícil ficarmos indiferentes à injustiça. 

Ergüven mostra ser uma realizadora muito competente, uma promessa no Cinema mundial. Esperemos que a sofisticação da sua obra não passe indiferente na época dos prémios. 

A última nota é para a banda sonora e sublime é a única palavra possível para a descrever.




Na íntegra aqui: https://play.spotify.com/user/1170290502/playlist/1trm8aJSLjMyrWrwB0VuLN

Veredicto: OBRIGATÓRIO.

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