14/11/2014

Interstellar | Christopher Nolan. 2014

Título em Portugal: Interstellar
Data de estreia: 6.11.2014

















Existem filmes cuja digestão demora a ser feita. O processo é semelhante à digestão de um almoço de cozido à portuguesa repleto de rodelas de farinheira e chouriços – ingredientes que provocam crises demoradas de azia. 

Interstellar foi para mim um filme de deglutição difícil. Esperei algum tempo para escrever algo sobre o filme, consciente de que muitas vezes este tipo de filme precisam de tempo para gerar sentimentos e atingir conclusões. A expectativa, a excitação quase geral da blogosfera e as duas estrelas do Vasco Câmara e do Luís Oliveira eram a conjugação perfeita para amar o filme. No entanto, passados alguns dias, a minha afeição para com este projecto de Christopher Nolan mantém-se igual ao que senti quando sai da sala de cinema. Simpatizei, mas não amei. 

Em Interstellar, os problemas interpretativos que tive com Prometheus e com Gravity são idênticos. Sou definitivamente uma gaja que prefere filmes com poucos diálogos e pessoas com niquice de roupa, a conversas dignas de teses de doutoramento sobre gravidade, telepatia ou buracos negros polvilhados com purpurinas e luzes de discoteca.
O problema não é do Nolan nem do filme, é meu. Não tenho sensibilidade científica suficiente para me entregar de alma e coração a este tipo de filmes. Os meus neurónios destinados ao “capítulo física”, ficam sempre muito pouco satisfeitos com o desfile e aprofundamento de teorias que não aprendi no secundário - porque ia quase sempre para a rua nas aulas do Prof. Catarino. 






































Prós:
A Cinematografia / fotografia / concepção artística e banda sonora são impossíveis de ignorar. Interstellar é recheado por momentos de pura beleza. 
As interpretações. Matthew McConaughey é incrível. O elenco secundário é competente, mas Jessica Chastain merece um destaque. Já Anne Hathaway é demasiado doce para interpretar alguém que em “modo destemida” seria capaz de plantar couves de Bruxelas no espaço com 5 minutos de oxigénio restantes. A interpretação de Mackenzie Foy como Murph, a filha de Cooper (McConaughey) é impossível ignorar. 
E é também no elenco e na emotividade que Nolan dá às suas personagens que dota Interstellar de uma condição humana incrível. A relação entre pai e filha e as interpretações que McConaughey, Foy e Chastain têm neste filme são intensas e sensíveis. É por isso que se pode afirmar que este é um filme sci-fi feito com coração. 

Contras:
O argumento nem sempre é coeso. Toda a física teórica é questionável e “entupida” por paradoxos. O desfile de doutrinas é semelhante aos dogmas de uma religião. 
A disparidade de tempos usados no argumento é um ponto negativo. A lentidão de alguns momentos “mais humanos” contrasta com a velocidade em que decorrem momentos com explicações mais científicas e que requeriam mais tempo de apreensão por parte do espectador. A cena final é ficção científica dentro da ficção científica. 

Resumindo: 
Interstellar é um ambicioso drama que tem como cenário principal o espaço. Mergulhado em cenas com impressionantes fanfarras de efeitos audiovisuais absolutamente estonteantes. Com um Matthew soberbo. É um filme perfeito para aqueles que têm uma mente aberta.
Para estes, se 2001: A Space Odyssey foi um ballet, Interstellar será uma espécie de montanha-russa. O filme dá uma intensidade profunda à elegância do espaço e mistura realismo à fantasia especulativa numa comovente mistura de espiritismo com destino e física quântica. 
Para mim não chegou a ser tanto, mas foi uma boa forma de por em prática a resistência da minha bexiga e de ficar um bocadinho mais apaixonada pelo sorriso de Matthew McConaughey (só o sorriso porque o malvado não mostra os abominais). 


Nota:





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