Título em Portugal: Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Data de estreia: 08.01.2015
Birdman or The Unexpected Virtue of Ignorance era um dos filmes que mais aguardei em 2014. Era também o filme para o qual tinha as expectativas mais elevadas. Pela história, pelo elenco, pelo realizador.
Infelizmente, simpatizei muito pouco com ele. É impossível negar que ver este Birdman foi uma experiência e tanto. Experiência esta que resulta numa sensação dúbia e estranha perante o filme. Existem coisas boas, mas tantas outras insuportáveis. Com muita pena minha, as más superam as boas.
São os aspectos visuais e técnicos do filme, bem como as performances do elenco que o colocam num patamar superior. O trabalho de Emmanuel Lubezki na fotografia do filme é qualquer coisa de monumental. Os planos sequência – sobretudo os que acompanham a “esquizofrenia” de Michael Keaton e que dão a falsa ideia de que o filme acontece em tempo real são incensuráveis. O momento em que a personagem de Keaton entra numa loja para comprar uma bebida e a loja está iluminada com luzes coloridas ou aquela cena (quase no fim) em que se vê o teatro vazio com partículas de poeira a flutuar pelo ar e uma luz néon a brilhar pela janela (entre outras cenas), são momentos de poesia cinematográfica.
Birdman tenta ser uma chamada de atenção sobre a crise que o cinema actual padece. Cinema que vive mais em torno de receitas do que de talentos. É contra a crítica (dita) especializada que tantas vezes prejudica o cinema e que pelos vistos, também afecta o teatro. Menciona a falta de profissionalismo e incoerência para com a arte que alguns actores têm. Aborda o tema da toxicodependência, do álcool, da depressão. Tudo isto aparenta estar alicerçado em excelentes ideias, mas na verdade, nada é explorado de forma concreta. As críticas/insinuações são dadas, mas depois parece que ficam deixadas somente à imaginação/julgamento do público.
Em The Wrestler assistimos a um regresso glorioso de Mickey Rourke, agora com este Birdman, Alejandro González Iñárritu "ressuscitou" Michael Keaton, fez com que o mundo relembrasse o talento de Edward Norton e colocou holofotes em torno de Emma Stone, que tem neste filme alguns dos melhores momentos da sua (ainda) curta carreira. Quanto a Naomi Watts, não é preciso justificar o seu talento. Quando aparece – e infelizmente pouco – mostra porque é uma das actrizes mais competentes da actualidade.
Todos percebemos a escolha de Keaton para o papel de Riggan - um actor conhecido por interpretar um super-herói em tempos: Birdman - tal como Keaton interpretou Batman. Riggan está em profunda crise profissional e existencial que se manifesta em alucinações auditivas e visuais provocadas por um crescente sentimento de irrelevância e insanidade.
Keaton interpreta um actor que quer ser levado a sério, tentando a sorte na Broadway, mas esta não é uma tarefa fácil, porque para começar, ele não confia em si próprio para interpretar outra pessoa que não o ídolo que em tempos já foi.
Esteticamente é o filme perfeito, mas há tanta coisa detestável neste filme. Existem diálogos completamente incómodos. O “autismo” de algumas personagens associado a egocentrismos exacerbados é muito difícil de digerir, porque é usado até à exaustão. O recurso ao som de tambores em “plano de fundo” é do mais irritante possível. E a voz da consciência de Riggan só me fazia lembrar Christian Bale.
Iñárritu tenta ser original, mas tudo em Birdman soa em demasia a pretensiosismo. A abordagem ao Teatro não tinha necessidade de ter sido transformada numa sátira tipo “revista à portuguesa”. Na verdade, o Teatro é uma espécie de alvo acidental da tentativa de crítica do realizador. O Teatro pode ser sinónimo de drama, sagacidade, insegurança e de comédia humana, mas a ideia de “apatetar” a arte não correu muito bem.
Em Birdman há talento, há criatividade, há excelência técnica, mas há um filme chato, intrusivo, incómodo e causador de náuseas.
E caro Iñárritu, o mundo precisa de Heróis. O mundo precisa de falácias e de acreditar que alguém luta por um amanhã melhor, seja pela mão de alguém com uma capa vermelha, seja pelo simples acto de ajudar um cego a atravessar a estrada. Precisamos acreditar nem que seja através de um livro, de um filme, duma série ou de uma música. E tal como Nietzsche escreveu em tempos: “não desfaças o herói que está na tua alma!”.
Nota:
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