22/01/2015

Whiplash | Damien Chazelle. 2014

Título em Portugal: Whiplash - Nos Limites
Data de estreia: 29.01.2015 























Esta opinião não vai ser imparcial. Acuso-me previamente: este não é um dos meus filmes favoritos de 2014 é um dos meus filmes favoritos, ponto. 

Whiplash comoveu-me. Não por ser uma história “triste” mas porque é uma história poderosa. É um filme feito com paixão, arte e intensidade. Dias depois de ter visto o filme, ainda penso nele. Ainda divago na deslumbrante paleta de cores em que o castanho e o dourado têm destaque e ouço a música. É muito agradável quando um filme nos deixa atordoados, cheios de adrenalina e com vontade de mais. Quando os 107 minutos chegaram ao fim, passei horas seguidas a ouvir a jazz

A busca na perfeição artística e estética num filme não é novidade alguma, no entanto em Whiplash, o autor / realizador Damien Chazelle consegue o pleno e atinge ambas. Chazelle mostra a precisão de um realizador com o dobro da experiência. Capta o momento certo, da forma correcta, com um estilo perfeito. A mestria do realizador eleva Whiplash  para algo que vai muito além de uma fascinante história em torno de duas personagens que têm um amor em comum. 

J.K. Simmons e Miles Teller são dois actores diferentes, que se encontram em pontos muito díspares das suas carreiras. Um, apesar de ser veterano, estava pouco habituado à ribalta, mesmo que sempre muito presente em papéis coadjuvantes. O outro é um jovem actor que já havia chamado a atenção da crítica e do público em The Spectacular Now
































Uma das coisas mais perfeitas em Whiplash é o facto de que não complica a história central. O foco é um: um jovem estudante de música - Andrew (Miles Teller), é um intérprete talentoso de bateria e pretende ser o melhor baterista de jazz da “actualidade”. O talento de Andrew chama a atenção de Terrence Fletcher (J.K. Simmons), um músico de renome que é professor e mentor na Escola onde o jovem estuda. Tudo seria perfeito, se o estudante não tivesse que provar constantemente o seu valor a Fletcher, que é professor é intenso, agressivo, vingativo e ausente de deontologia profissional. Esta interacção disfuncional entre os dois actores dá ao argumento momentos de tensão, de ritmo e oscilações entre a cumplicidade e a repulsa. 

Andrew quer ser o próximo Charlie Parker e Terrence quer encontrar o próximo Charlie Parker. Terrence quer que Andrew perceba que num desempenho de excelência tudo conta e tudo tem que ser feito com sublimidade. Não há espaço para erros. Fletcher é um perfeccionista intenso e abusivo. No entanto, no que diz respeito a esta personagem, Damien Chazelle também mostra um lado mais humano do professor pois na verdade, escondido naquela máscara de malvadez há alguém que está desesperado por preservar a música como arte. É um homem que ama o jazz, que respeita a história deste género musical e que venera os mestres. Podíamos odiar a personagem mas não conseguimos. JK Simmons é cativante. 

É muito refrescante ver tanta paixão e energia centrada num homem que se entrega de alma e coração a uma das personagens mais marcantes do cinema contemporâneo. 

Whiplash é uma ode ao jazz, mas é mais do que isso, é um filme sobre duas pessoas que querem atingir uma meta quase impossível – a de serem os melhores e não se limitarem a fazer um “bom trabalho". Esforçam-se por atingir a ideia de permanecer no tempo, de serem lembrados na história sem nunca abandonar o respeito por aqueles que os antecederam. Todo este objectivo está mergulhado na incerteza de que esta meta poderá nunca ser alcançada e isso dota o filme de uma certa tristeza. Mas jazz é isto, é o improviso e o “sentir o momento”, mesmo que esse momento seja ensaiado de forma meticulosa durante horas, dias, semanas e meses. 

Chazelle, mostra que “um bom trabalho” não é suficiente e o filme segue a sua própria mensagem. Ninguém neste filme se limita a fazer “um bom trabalho”. Todos e tudo se destacam, sobretudo os actores principais, o realizador e o director de fotografia - Sharone Meir. É um filme perfeito, dotado de um argumento construído com paixão e energia. 




- I’d rather die drunk, broke at 34 and have people at a dinner table talk about me than live to be rich and sober at 90 and nobody remembered who I was.


Nota:


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