Preliminares sem direito a orgasmo.
1 de Janeiro, Murphy (Karl Glusman) acorda ao lado de Omi (Klara Kristin). Recebe uma mensagem de voz da mãe de Electra (Aomi Muyock), a sua ex-namorada, que está preocupado com o facto da filha estar desaparecida. Murphy começa a recordar a sua história de amor tumultuosa com Electra, uma história de paixão com promessas, "jogos" e excessos. Uma história de amor que não mostra só a felicidade e a alegria, mas a exposição à inveja e ao erro.
Nascido a partir de um roteiro de três páginas e de muita improvisação, o filme mostra uma história de amor e de todos os aspectos que fazem parte de uma relação, incluindo o sexo - bem, especialmente o sexo. Gaspar Noé disse publicamente que queria filmar luxúria e paixão, porque sentia que tal nunca foi mostrado de forma suficiente no Cinema. Segundo consta, Noé já tinha a ideia de fazer este filme há muito tempo e que inclusivamente já tinha pedido a Vincent Cassel e Monica Bellucci para interpretarem as personagens principais, uma proposta que o casal recusou (graças aos Deuses).
A primeira cena que nos é apresentada é a de um casal a masturbar-se mutuamente. Assim não há enganos e ficamos logo avisados "ao que vamos". Noé prometeu "blood, semen and tears" e cumpre. Não há sexo simulado, há sexo explicito. Há fluidos e sons reais. Só lhe falta o cheiro.
A fotografia de Benoit Debie é extraordinária, tal como as opções no que diz respeito à iluminação e a música (de Erik Satie, Death in Vegas e Funkadelic, para citar alguns).
Tudo isto parece bonito e poético, mas o realizador colocou o sexo como personagem principal e ao dar-lhe 99% de espaço em cena, transformou a bonita ideia de mostrar sexo com amor, em pornografia. Mas o maior problema do filme é a falta de empatia entre Murphy, Electra, Omi e mulheres afins. Se Noé queria transmitir intimidade, não conseguiu. E mesmo esta alienação ou falta de empatia entre pessoas que até pode ser erótico, não o é.
Quer quando filma sexo, quer quando filma as personagens sem troca de fluidos, Noé usa e abusa de close-up´s mas nem essa técnica intimista é incapaz de obter a verdadeira essência emocional da sexualidade. Eu, pelo menos, nada senti.
Visualmente é deslumbrante mas é uma grande falha na escolha do elenco e é sobretudo um erro brutal no propósito. Sim Gaspar! Se algo pode correr mal, vai correr (mesmo) mal.
Veredicto: um filme que não devemos ver na presença dos nossos pais. O argumento "arte" não vai funcionar.
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