Prefácio
Podia resumir qualquer opinião com uns prints às scores IMDb ou Rotten Tomatoes, ou então, podia tecer comentários arrasadores ao Ben Affleck só porque sim. Podia ainda gastar teclado a escrever sobre a inexpressividade de Henry Cavill mas infelizmente para muitos não sou aquele tipo de pessoa que usa scores só quando convém, sou grande fã da família Affleck e é impossível falar de inexpressividade de um rosto desenhado meticulosamente por Apolo.
Introduções à parte, facto é que a opinião pública está dividida entre ódio e amor. Em ambos os lados há razões e erros. Longe vão os tempos em que o meio-termo era sinónimo de opinião saudável.
Para a autora destas palavras, Batman v Superman: Dawn of Justice não é um filme que entrará para o top de filmes favoritos mas também não ficará no caixote do lixo ou de spam. O filme de Zack Snyder alcançou um lugar confortável na (minha) lista/top das melhores adaptações de BD ao Cinema.
É problemático o facto de já termos visto "n" Batmans e "n" Super-homens no grande ecrã. Mas nenhum dos filmes feitos até hoje abordaram como este a questão de Deus versus Homem. E essa é uma abordagem que uma pessoa de História (sim, eu!) não pode ignorar e que dá logo de imediato uma grande vantagem ao realizador e consequentemente ao filme.
Desde os primórdios da História que a relação entre Homem e Deus gera paixões, invejas, medos, rivalidades. Uns colmatam o fascínio divino com a criação de panteões para que vários Deuses tivessem várias funções, outros mataram etnias menores para alcançar a divindade tentando a transformação em Super-Homens e muitos mataram e matam em nome de Deus como se tivessem recebido uma procuração para tal.
Porquê adorar Deus ou Deuses se o Super-homem - um ser superior aos demais - é o modelo ideal para elevar a Humanidade (Nietzsche)?
Deixando a História e a Filosofia de parte para não vos maçar mais, vamos ao que interessa. Como (quase) todos os filmes, Batman v Superman: Dawn of Justice tem coisas boas e más. seguem-se SPOILERS (portanto se ainda não viram o filme, parem de ler).
Aspectos Negativos:
- A quantidade exagerada e conteúdos explícitos dos teasers, trailers e tv spots. Com tanta informação, tudo ou quase tudo o que vimos no filme já nos tinha sido apresentado previamente. O factor surpresa não acontece.
- A edição. Parece que filmaram tantos conteúdos que nem sempre o resultado final é feliz. Apesar das 2h30 de filme, existem cenas curtas e desconectadas das restantes. Muitas transições de cenas não foram adequadas.
- Lex Luthor. Jesse Eisenberg deu o seu melhor e deu à personagem um misto de inteligência e de loucura que podia funcionar melhor se não tivesse que partilhar as atenções com tanta gente e com tantas história paralelas. Tudo o que acontece à sua volta é tão complexo que há uma certa dificuldade em encaixar a história de Luthor. As suas peculiaridades e aspirações a maníaco de escala mundial não são fáceis de acompanhar e aqueles que não conhecem a personagem terão dificuldade em acompanha-la.
A falha não é do actor, é do realizador ao não dedicar tempo suficiente para retratar uma personagem complexa é irritante.
Temos um vislumbre breve sobre o seu passado (problemas com o pai que aparentemente é abusivo) e da sua psique sobre a dualidade de ser um génio e de querer dominar o Mundo para algo que não fica muito claro. A sua apresentação directa como louco megalomaníaco num mundo dominado por "um Deus" e por um Super-Homem é diminuta. Nem a forma interessante como manipulou as duas personagens principais num duelo de titãs foi realizada com o tempo correcto. Tudo aconteceu à pressa. Mas volto a referir, a abordagem de Eisenberg foi bastante corajosa e eficaz.
- Doomsday. Ao contrário do que acontece com Lex Luther, ainda bem que Apocalypse (nome em português) tem pouco tempo de antena. Nem a estética nem os efeitos especiais são impressionantes o suficiente ou reflexo da aberração genética que é. O Doomsday de Batman v Superman parece um misto de Tartaruga Ninja sob efeito de esteróides e o Hulk com prisão de ventre.
- A sequência de acção de Batman no deserto. Ok, é uma alucinação mas toda a coreografia da luta é terrivelmente coreografada. O pretendido não acontece e a cena é lenta e mal ensaiada.
- A continuidade da história de Man of Steel não funciona para aqueles que não viram o filme e o enredo de Batman v Superman implica um conhecimento prévio da história no que diz respeito à personagem Clark Kent/Superman.
- Escolher Jeffrey Dean Morgan para interpretar Thomas Wayne fez-me sorrir ao imaginar Edward Blake / Comedian como pai de Bruce Wayne. Este não é propriamente um ponto negativo mas é um turn-off com piada.
Aspectos positivos
- Ben Affleck conseguiu encarnar a personagem de forma perfeita. A sua história é bem contada, a personagem é sexy, sensível, egoísta em doses equilibradas e violento. Batman é tão badass como Bruce Wayne como quando tem ao seu serviço os gadgets especiais.
- O reforço da benevolência de Superman. Depois da destruição em Man of Steel, Snyder reforça a humanidade de Clark. A forma como as pessoas olham para ele e o adoram é comunicada de forma satisfatória e perturbadora, um retrato fidedigno de como o ser humano lida com as coisas mais poderosas do que nós - num misto de temor cego e medo.
- A exploração do oposto, ou seja, ao longo do filme Superman passa de Deus a "Diabo". Entre as pessoas cresce a insatisfação perante o Ser oriundo de outro Planeta e quando Clark Kent é exposto a este ódio, Henry Cavill expressa muito bem a dor e tristeza ao constatar esta nova realidade.
- A relação entre Lois (Amy Adams) e Clark. A química é inquestionável. Lois humaniza Clark, dá-lhe o sentido de "casa" e de pertença. Em certos momentos e aspectos a mulher é mais poderosa que Kent.
- Alfred: cada minuto que Jeremy Irons está em tela é um prazer. O efeito Irons é sempre factor de charme.
- Wonder Woman: a surpresa das surpresas. A escolha não podia ter sido melhor. Gal Gadot é absolutamente linda e dá à personagem Diana Prince, mistério, sedução e poder. A química com Bruce Wayne é totalmente bem sucedida. Estou pronta para ver mais desta Amazona.
- A banda sonora de Hans Zimmer (Inception, The Dark Night) e Junkie XL (Mad Max: Fury Road) que, com algumas excepções, foi bem concebida.
- O duelo Batman - Superman. A luta não se limita a acção. É um momento mais dramático e político do que aquilo que os fãs das adaptações da BD ao Cinema estão habituados a ver e talvez seja esse factor que está a decepcionar muitos espectadores. Ao contrário do que acontece com Tony Stark e Steve Rogers, estas duas personagens não têm ligação emocional nem história. Esta batalha não se limita a socos e afins, são as questões políticas e filosóficas que estão em foco. Muitos são aqueles que escrevem sobre a desactualização das noções de divindade e de obediência mas só pode argumentar isso quem tem pouco conhecimento sobre a temática, sobre o Passado e sobre o Presente (real e não da ficção).
- A morte. Quão icónico foi assistir a dois funerais? Um - o enterro espectacular de Superman, um Deus e herói admirado por todos depois da morte. Como se costuma dizer: os heróis perfeitos são os que estão mortos porque mortos não nos podem decepcionar. O outro, o enterro de Clark Kent, filho, namorado, amigo, um bom homem, numa pequena cerimónia em casa, a casa que abraçou como "ser humano".
- A utilização perfeita do epitáfio do túmulo do arquitecto inglês Christopher Wren "If you seek his monument, look around you"
- Granny’s Peach Tea: um grande e intenso momento!
Não é um filme divertido, não pretende ser. É um filme com acção e drama, motivações realistas e ideologias fortes e contraditórias. Dito isto, não liguem muito ao que a critica e afins anda a escrever, talvez a negatividade seja só reflexo do cinismo que caracteriza a cultura actual da comunicação social, ou então, escrevem mal sobre o filme porque não prestaram muita atenção à mensagem intrínseca.
Por último, parece que Ben Affleck vai - muito provavelmente - enveredar numa carreira a solo como Batman e isso, caros amigos, é algo que espero ansiosamente e que quero muito ver.
Gostei muito do Bruce Wayne e da Wonder Woman. Quanto ao Doomsday, não me sai da cabeça que é igualzinho ao Cave Troll do Senhor dos Anéis:-P
ResponderEliminarAh ah ah ah pois é. Muito bom
EliminarAdorei a sua critica.
ResponderEliminarComo fã confesso de BD em geral e da Santíssima Trindade da DC em particular, só tenho de ficar deliciado que tenha gostado deste filme. É bom ver uma critica muito positiva mas, acima de tudo, entendida na mitologia que tanto adoro. Não se coíbe de apontar o que está mal, mas baseando a sua opinião na literatura e não em ideias pré-concebidas de personagens que muitos dizem conhecer mas que não deverão ler há décadas.
Obrigado e se tiver paciência convido-a a visitar o meu blog: achoqueacho.blogspot.com
Hear, hear! :D
ResponderEliminarEu diria rigorosamente o oposto em relação ao Cavill e ao Affleck. Concordo que o Cavill pode não ser o melhor ator do mundo (ainda tem um longo caminho a percorrer) mas dai a ser inexpressivo vai uma longa distancia e sim, aquele rosto desenhado por Apolo bem podia estar sem mover um músculo que eu ia gostar de vê-lo na mesma lol. Já o Affleck mata-me de tédio sempre que o vejo. Olhar para ele e olhar para uma parede beje faz-me rigorosamente o mesmo efeito: nenhum. Aliás, ainda consigo achar a parede bem mais interessante.
ResponderEliminarAinda não vi este filme e só vou vê-lo por causa do Henry porque se fosse pelo Ben não me dava a esse trabalho. Ai os sacrifícios que uma mulher faz por um homem!
correcção: bege e não beje :)
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