11/03/2016

Tangerine | Sean Baker. 2015



No início do filme assistimos à reunião (na véspera de Natal) de Alexandra (Mya Taylor) e Sin-Dee Rella (Kitana Kiki Rodriguez), melhores amigas e prostitutas transgéneras. Sin-Dee acabou de sair da prisão e está ansiosa por saber novidades. O tema “namorado/chulo” de Dee - Chester (James Ransone) – surge na conversa e Alexandra descai-se com a novidade de que o homem anda a trair a amiga com uma mulher branca cujo nome começa por um D. Esta estrondosa novidade despoleta a fúria de Si-Dee e gera uma verdadeira odisseia. Sin-Dee vai percorrer as ruas de Los Angeles à procura da Desiree ou Dominique ou Destiny ou coisa semelhante. Para preencher a intriga há ainda um personagem cuja história se cruza com a das duas amigas: o taxista arménio Razmik (Karren Karagulian), um homem aparentemente heterossexual mas com uma predilecção secreta por pénis. 


Assim, a sinopse de Tangerine não podia ser mais simples: é a história de uma prostituta transsexual que acabou de sair da prisão e que percorre as ruas de uma cidade à procura do “namorado/chulo”… depois de descobrir que este a traiu enquanto esteve presa. 

Aposto que este resumo pode afugentar homofóbicos ou pessoas que procuram argumentos intricados nos filmes. Tangerine não é um filme standard é um filme arrojado que abre portas a uma realidade que poucas vezes é dada a conhecer. É incrivelmente corajoso, real e urbano não só pela história que conta mas também pela forma como foi filmado: com um iPhone








É um filme sobre as personagens e sobre as suas interacções. Algumas são causas perdidas e destinadas ao fracasso, outras são tristes e outras são hilariantes. Mya Taylor e Kitana Kiki Rodriguez são extraordinárias e competentes protagonistas. Taylor é subtil e séria, sem nunca cair em apatia; Rodriguez é efusiva e cómica sem cair no ridículo. Tangerine é uma excepcional tragicomédia que serve de palco a duas fabulosas estrelas. Ambas dotam o filme de competentes performances. Mya entrou na história do Cinema como o primeiro “actor” transgénero a vencer prémio de Best Supporting Female no 2016 Film Independent Spirit Awards

O facto de ter sido criado através de telemóvel é obviamente um factor digno de nota. Ninguém a olho nu percebe este pequeno (grande) detalhe. O filme afasta-se da tradicional cinematografia ao usar a tecnologia cada vez mais capaz e autónoma. Aquilo que a maioria dos filmes depende no que diz respeito ao zoom e foco para criar determinados efeitos, Tangerine realiza-os através do uso brilhante do enquadramento, da cor e do som. Produzido pelos talentosos irmãos Duplass não causa estranheza no que à irreverencia diz respeito. 

É o filme de Natal perfeito para quem tem uma mente aberta, sem preconceito e para quem aprecia humor inteligente e audaz. É indicado para quem aprecia um drama que não é triste nem nos faz chorar as pedras da calçada. 



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