28/02/2017

Opinião ▪ Moonlight | Barry Jenkins. 2016



“At some point, you’ve got to decide for yourself who you’re gonna be. You can’t let nobody make that decision for you”. 

A sinopse é muito simples: é uma história intemporal de auto-descoberta e de ligações humanas. Moonlight narra a vida de um jovem desde a sua infância até à idade adulta enquanto se esforça para encontrar o seu lugar no mundo.


Adaptado da obra de Tarell Alvin McCraney, In the Moonlight Black Boys Look Blue, Moonlight é um conto de identidade e de descoberta de sexualidade do autor-realizador Barry Jenkins e é um dos melhores filmes do ano e uma das obras mais importantes de 2016. As 8 nomeações para os Oscars eram mais que merecidas e a vitória de três galardões dispensa justificações. Quero que saibam que o o meu filme favorito do ano passado e que achava que devia ter recebido o prémio para Melhor Filme é o Manchester by the Sea, no entanto, não fiquei de todo aborrecida ou desiludida com a Academia. Este ano, ao contrário do que tem vindo a acontecer, o prémio era bem entregue à maioria dos nomeados na categoria.

Moonlight está dividido em três partes. A primeira parte é intitulada Little e apresenta Alex R Hibbert a interpretar uma criança chamada Chiron, com a alcunha de "Little". A segunda parte tem como título Chiron e tem Ashton Sanders a encarnar a versão adolescente da mesma personagem. A terceira parte é chamada Black e cabe a Trevante Rhodes a interpretar a versão adulta da criança que conhecemos no início do filme e que passa a designar-se "Black". A forma como os três actores dão vida a Chrion é um dos pontos mais bem concebidos deste projecto de Barry Jenkins. Os seus maneirismos são usados habilmente pelos três jovens actores de modo a que realmente pareçam ser a mesma pessoa.









A questão da homossexualidade, a problemática de Chiron ser um jovem negro homossexual está sempre presente no argumento mas não há uma abordagem obsessiva, há uma apresentação natural e justa, sem "panhinhos quentes". Há também abordagens à emigração, à toxicodependência e narcotráfico, à prostituição e ao bulling

Chiron, ainda criança forja um relacionamento com um traficante local, Juan (Mahershala Ali), que se torna uma espécie de figura paterna que compensa a ausência de um pai que nunca teve e com a sua afectuosa parceira Teresa (Janelle Monae). No entanto esta relação de amizade não é suficiente para salvar Chiron dos espancamentos na escola, que recebe por ser diferente, nem de lidar com os problemas que tem em casa ao habitar no mesmo espaço com a sua mãe Paula, uma instável viciada em drogas que é interpretada brilhantemente por Naomie Harris.

É uma história muito específica e contada por Jenkins de uma forma muito bonita. O filme é realizado de uma forma poética e meditativa, no entanto, a maior força de Moonlight é que nunca se mostra como um filme que se desliga de uma experiência particular. O realizador evoca ao espectador uma empatia natural pelas lutas da criança/jovem/adulto que se envolvem com temas universais, com os quais todos nós nos relacionamos. Falo de solidão, de dificuldades de relacionamentos ou procura de conforto num velho relacionamento, mesmo que essa relação esteja envolta em más memórias. Para Chiron, essa pessoa é Kevin, um amigo próximo que também é interpretado por três actores diferentes (Jaden Piner, Jharrel Jerome e André Holland).






Ao longo das três partes do filme, cada actor destaca-se de forma notável mas o filme atinge o seu ponto alto na última parte que é quase exclusivamente dedicada a uma noite entre Chiron e Kevin, já adultos e depois de terem seguido os seus próprios caminhos e destinos. 

O único ponto negativo que ouso apontar neste Moonlight é o facto do extraordinário Mahershala Ali aparecer tão pouco tempo no filme. O pouco é de facto significativo porque a personagem que interpreta passa a ser uma presença omnipresente no filme. Little dá origem a Chiron e a este segue-se Black - três nomes para a mesma pessoa que passa a seguir a vida e a filosofia de vida de Juan. É que Mahershala Ali como Juan é um traficante de drogas que tinha um coração (e boca) de ouro.  

Moonlight é uma história de auto-descoberta que aborda ligações humanas e que é contada através de um romance maravilhosamente elaborado, emocional e provocador. Um filme ferozmente realizado, com desempenhos tocantes, diálogos poderosos e a cinematografia de James Laxton irrepreensível. Jenkins permite que esta história exista de uma forma que se sente orgânica, nunca chamando a atenção para si mesma, mas sempre apelando a uma profunda compreensão e empatia por parte do espectador. É um filme totalmente despretensioso e obrigatório. 


"Let your head rest in my hand. Relax. I got you. I promise. I won't let you go. Hey man. I got you. There you go. Ten Seconds. Right there. You in the middle of the world."

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