17/01/2018

Opinião ▪ Call Me by Your Name | Luca Guadagnino. 2017



Em Itália do final do anos 80, Elio de dezassete anos, inicia um relacionamento com Oliver, o assistente do pai que é um conceituado professor de Cultura Clássica. Entre os dois nasce uma relação especial, emoldurada num cenário paradisíaco.

Caros leitores, não se deixem enganar pela falsa publicidade ou pelas opiniões mais tendenciosas, Call Me by Your Name não merece nenhum tipo de rótulo simplista. É um filme sobre crescimento, vulnerabilidade, sexualidade, descoberta, mas sobretudo sobre amor.



Tudo no filme é apaixonante: argumento, realização, fotografia, banda sonora, cenários e sobretudo as interpretações. A dinâmica entre Armie Hammer (Oliver) e Timothée Chalamet (Elio) – as personagens principais - e o apoio que recebem de Michael Stuhlbarg (Perlman) e de Amira Casar (Annella) completam, de forma perfeita, a história principal. O filme de Luca Guadagnino dá às personagens uma importância tal que é impossível colocar de parte o facto de que de que este filme tem algumas das (se não as) melhores interpretações do ano (2017). Momentos de leveza narrativa são alternados por momentos de profunda emoção, intimidade e introspecção: a crença emocional de Chalamet, o controlo do tom de voz e as expressões faciais matizadas de Armie Hammer e até o monólogo final de Michael Stuhlbarg, são momentos de pura beleza cinematográfica. É muito refrescante e cativante ver as personagens a interagir entre si. Não li o livro de André Aciman, que está na origem do filme, mas aposto que as opções de Guadagnino e de James Ivory, na realização e escrita (respectivamente), não envergonham em nada o autor. 

A empatia que criamos com as personagens é um dos elementos mais agradáveis deste filme. As várias cenas memoráveis do filme, fazem com que o espectador se torne vulnerável, quer nos momentos em que esboçamos um sorriso quer naqueles que nos fazem lembrar algo ou até naqueles em que algo nos incomoda. 

Guadagnino realizou este filme que se fosse uma pintura digna de um Mestre da Escola de Barbizon - trabalhou de forma meticulosa, usou sabiamente a luz e as sombras e tomou opções propositadamente sedutoras. O palco principal - Itália (Crema, Pandino e Moscazzano) - também ajuda a desenvolver o enamoramento entre a película e o espectador. 

Com o Oliver de Armie, a empatia não é imediata. De forma propositada, nunca esquecemos que é um adulto, que é um convidado, que é experiente e que é sobretudo sincero com o jovem por quem se apaixona e que também se apaixona por ele. Armie é inteligente e racional mas é sobretudo através do colossal trabalho do jovem Chalamet, como Elio, que são transmitidas as mais sensíveis das emoções, da vulnerabilidade, e do amor. Até no momento mais piroso do filme, precisamente a cena em que acontece o momento “call me by your name and I’ll call you by mine” é deslumbrante porque, caros leitores, todos temos momentos pirosos mas marcantes nas nossas vidas. O romântico nem sempre é refinado como uma jóia Lalique, pode ser pindérico como a letra de uma música sertaneja.












A forma como o romance entre Oliver e Elio cresce é extremamente erótica. Nada é explicito. O filme gira em torno de nuances e subtilezas tanto na maneira como os dois homens falam um com o outro, mas também na maneira como se tocam. Os momentos em que os dois trocam um olhar, inventam desculpas para estarem juntos, os gestos e toques são dos momentos mais eróticos de todo o filme. Luca Guadagnino não pretendeu fazer cenas sexy’s mas sim intoxicar o espectador com desejo de saber o que vai acontecer a seguir. Um romance tem obviamente que ser equilibrado nos dois lados dos amantes. Chalamet e Hammer dão desempenhos extraordinários e intrincados, são duas pessoas não têm certezas sobre si próprias mas que, eventualmente, descobrem o seu eu mais real na presença do outro. 

Mas é o monólogo de Mr. Perlman’s, o pai de Elio, um dos momentos mais intensos do filme: "Remember, our hearts and our bodies are given to us only once. And before you know it, your heart is worn out, and, as for your body, there comes a point when no one looks at it, much less wants to come near it. Right now, there is sorrow, pain. Don’t kill it. Embrace it with the joy you’ve felt."
Se alguém tinha algum tipo de dúvida acerta de quão colossal Michael Stuhlbarg é (pessoas que certamente não viram Boardwalk Empire, por exemplo) passaram certamente a ter as suas dúvidas dissipadas. Com estas palavras, Perlman confirma saber o que se passa entre o filho e Oliver. Em momento nenhum o julga e tenta consolar o jovem com palavras de sabedoria, empatia e coragem. Cada palavra que o pai diz ao filho é intencional e cuidadosamente pensada pois o jovem viveu e perdeu o seu primeiro amor. 

O fim do filme é gigantesco. Num fim de tarde de inverno, Elio recebe um telefonema de Oliver a anunciar que vai casar. Chocado, o rapaz diz “Elio, Elio, Elio, Elio, Elio…” ao qual Oliver responde, “Oliver…I remember everything.” Não existem muitos filmes com créditos finais memoráveis ou belos mas Call Me by Your Name consegue o feito terminar com "chave de ouro". É artístico e tão cuidadosamente interpretado como editado. Além disso, escolheram a música perfeita Visions of Gideon de Sufjan Stevens

Call Me by Your Name é um daqueles filmes que permanece durante muito tempo na mente do espectador. É encantador no seu todo. Esperemos que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas não ignore o trabalho do realizador mas sobretudo que não coloque de lado o extraordinário desempenho de Timothée Chalamet e de Michael Stuhlbarg. Se tal acontecer, é um acto criminoso.


What if my body—just my body, my heart—cried out for his? What to do then? What if at night I wouldn’t be able to live with myself unless I had him by me, inside me? What then? 




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