10/01/2014

Opinião | Gravity | Alfonso Cuarón. 2013

Título em Portugal: Gravidade
Data de estreia: 10.10.2013




A Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) é uma engenheira médica que parte para a sua primeira missão espacial. O responsável pela missão é o experiente astronauta Matt Kowalsky (George Clooney). A equipa tem como objectivo reparar um telescópio. Mas, durante a intervenção mecânica e com alguns dos astronautas fora da nave, ocorre uma tempestade de lixo espacial. A estação é destruída e os sobreviventes reduzidos a dois. Stone e Kowalsky ficam perdidos no espaço, sem oxigénio e sem comunicação com a Terra. Só um sobrevive. Realizado por Alfonso Cuarón, Gravity é um filme 3D de ficção científica, drama e suspense, sobre auto-controlo, sobrevivência e superação. 




Tendo em conta a estrondosa crítica que o filme de Cuarón tem tido, e olhando para a “chuva” de nomeações que tem recebido para alguns dos prémios mais conceituados da indústria cinematográfica, ver este filme era quase uma responsabilidade semelhante àquela que senti quando tive que ler a Utopia de Thomas More pela primeira vez, ou quando fui de viagem a Roma e soube que ia entrar na Basílica de São Pedro e que ia ver (ao vivo e a cores) a Pietà de Miguel Ângelo.

Tal como o histórico livro ou a gloriosa escultura, com Gravity sabemos que estamos perante uma “obra de Arte” e, antes de vermos, somos invadidos pelo medo de não gostarmos. Somos assolados pelo pânico de ir contra a corrente. O conhecimento prévio e a crítica (quase toda positiva) é assustadora e muitas vezes causadora de tendências em massa.

No entanto, ao contrário daquilo que senti quando li a Utopia ou do que vivenciei quando vi a Pietà, os sentimentos que tive ao ver o filme em nada se assemelham à glória de ler More ou à de ver um mármore transformado em diamante. Mas, a culpa, não é do filme, é minha.

Em primeiro lugar, porque não sou fã de ficção-científica, em segundo, porque tenho algum pânico em ver filmes que se passam em sítios claustrofóbicos - barcos, comboios, aviões e afins. Mas, existe ainda outro problema. A minha não crença em alguns detalhes científicos que a história do filme nos conta. Sentimentos semelhantes ao que senti quando vi Prometheus. A irrealidade da história não permite maravilhar-me por inteiro com o filme, com os cenários e até com as interpretações. No entanto, e tal como no filme de Ridley Scott, este Gravity de Alfonso Cuarón é um orgasmo visual. E isso é inegável, até para os mais descrentes.

E no lado das coisas menos positivas (sim, só para a minha estranha pessoa) está ainda Sandra Bullock. Percebo-a, mas não seria a minha escolha. Percebo que Bullock é capaz de dotar a narrativa com pontos de alívio e até, em certa parte, cómicos, mas a actriz não é física. É certo que George Clooney também não o é, mas este aspecto não é tão sentido no filme. Clooney consegue ser igual a ele próprio, mas no espaço. Tem o sentido de humor certo nos momentos certos. É o personagem de alívio no pesado argumento do filme – chegava um personagem a mandar piadas. Tenho para mim que, Marion Cotillard, Rachel Weisz ou Naomi Watts tinham sido melhores opções.

Tirando estas minhas embirrações, os 90 minutos de Gravity são um deleite visual, dotados de um sensacional e avassalador sentimento de pânico, de sufoco e - quase em sentido inverso – são 90 minutos de uma história simples, solitária, de meditação (ao som da estrondosa banda sonora criada por Steven Price) e de sobrevivência.

É possível arriscar a divagação e argumentar que este filme pode ser considerado um estudo sobre o lugar do Homem no Universo. Muitos escreveram que é uma chamada de atenção sobre o enfrentar de “um ente superior”. Uma análise às nossas vidas, à nossa vida perante a sociedade, às nossas derrotas e conquistas e sobre a certeza de que os nossos problemas muitas vezes não são tão grandes como parecem ser. A personagem Ryan Stone, no silêncio do Espaço, celebra a insignificância do humano, mas também a celebração da vida humana. Cabe a cada um de nós encontrar a significância da nossa própria vida.

Mas, no meio de tanta filosofia, poesia e até de fé, no meio de grandiosos detalhes artísticos, considero que a falta de seriedade dota o filme de um buraco negro que facilmente pode resvalar em abismo – sobretudo quando o espectador voltar a ver o filme no sofá e não em IMAX ou 3D.


Termino, relembrando as eternas palavras de Galileu Galilei:
“À ciência cabe dizer como vai o céu, e à religião como se vai ao céu.”

Nota: 

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