23/06/2014

Opinião | Before Midnight | Richard Linklater. 2013

Título em Portugal: Antes da Meia-Noite
Data de estreia: 06.Junho.2013


















Jesse e Celine regressam à tela nove anos depois de Before Sunset e 18 depois de Benfore Sunrise. Neste período de interregno – nós os fãs - divagámos, sonhamos, vaticinamos e ansiámos por saber o que tinha aconteceu a estes ao casal pelo qual nos apaixonamos. Depois de partilharem uma viagem de comboio, Celine e Jesse são finalmente um casal e orgulhosos progenitores de duas filhas gémeas.

O casal está de férias na Grécia – o último dia de férias. Aquele amor e paixão que vivenciamos nos dois filmes anteriores têm agora contornos diferentes. A característica de imortalidade e singularidade que a relação do casal tinha, deu agora lugar a uma crise. O casal maravilha afinal é composto por dois seres humanos e comuns mortais.

As dúvidas, inseguranças e incertezas do passado vêm à tona das discussões. As eternas questões assolam o casal: “será esta a vida que quero para mim? Será que queremos isto para nós? Será que ainda nos amamos? Será que ainda existe desejo? E mais uma vez o filme-diálogo tem em Ethan HawkeJulie Delpy a base e sustentabilidade. As interpretações que fazem são naturais – talvez o facto de terem sido - também eles - intervenientes no processo de construção das personagens lhes tenham dado mais empatia e cumplicidade para com Jesse e Celine. Os diálogos são mais ríspidos e crus. Não são de sonho, de futuro ou de eternas juras de amor. São humanos e vividos.



















Trabalho, família, comodidade, relaxe, repetição, apatia, etc. São elementos que fazem com que a paixão e amor que Celine e Jesse sentiam um pelo outro se dissolva lentamente e o fim do sonho parece estar cada vez mais perto.
O argumento do filme é – novamente – delicioso. Mordaz, bem-humorado,  inteligente e real. Rick Linklater é inquestionavelmente um mestre do  “romance indie”. Ao longo dos três filmes assistimos ao seu amadurecimento enquanto realizador sem nunca perder as características identificadoras: a realização, os diálogos, os cenários, a forma como filma o tempo, a intimidade, as emoções. Este amadurecimento também é sentido em Delpy e Hawke, quer a nível da interpretação, quer a nível da escrita.

Nenhum dos três filmes é acessível ao público em geral e sentir-se meio termo por qualquer um dos três filmes é impossível. Ou se gosta, ou se odeia. No entanto, até aqueles que odeiam, devem ser capazes de admitir que esta trilogia é incrivelmente bem feita.

E agora, num momento de pura confissão, digo-lhes que odeio a personagem Celine com todas as forças do meu ser. Celine não é o retrato da mulher comum, aliás muito pelo contrário é instável e parece sofrer de algum transtorno bipolar. Mas, se assim não fosse, os filmes de Linklater certamente não seriam tão perfeitos.



















"Like sunlight, sunset, we appear, we disappear. We are so important to some, but we are just passing through."

Nota:

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