19/01/2015

Men, Women & Children | Jason Reitman. 2014

Título em Portugal: ?
Data de estreia: ?

















Como realizador, Jason Reitman atingiu a estratosfera com - Thank You for Smoking, Juno, Up in the Air e Young Adult. O céu parecia ser o limite. Mas a simpatia durou pouco. Com Labor Day a crítica zangou-se com Reitman e afinal, nem tudo o que o jovem realizador tocava, virava ouro. Ao contrário da opinião maioritária, gostei deste Labor Day. Gostei da sua simplicidade e da eterna história de amor entre uma mulher e um fora da Lei, mas tenho plena consciência de que não é uma “obra-prima”. 

Infelizmente para Reitman, a crítica continua a ser fatal para com o trabalho do realizador. Men, Women & Children não caiu nas graças dos entendidos. O filme é uma declaração, um alerta extremo sobre um problema do mundo contemporâneo. Nele, Reitman e um elenco recheado de estrelas estão determinados a mostrar a influência menos positiva que a Internet, as redes sociais e os telemóveis têm nas nossas vidas. 
As intrincadas histórias dos homens, das mulheres e das crianças neste Men, Women & Children mostram uma narrativa em que os personagens passam quase todo o seu tempo em sites que promovem a pornografia, o adultério, a prostituição, a violência, a anorexia, a preguiça, o sadomasoquismo, o suicídio, a pedofilia e outras formas de desconexão social. 

Sim, a Internet é imensa e pode ser um lugar muito perigoso, mas o tom que Reitman e o Erin Cressida Wilson usam no filme, não é tanto de aviso ou de alerta, é uma repreensão pura e dura, sem meio-termo. Na verdade, a mensagem do filme funciona como uma espécie de "velhos do Restelo" que temem sempre que o futuro será povoado de terrores e que qualquer inovação pode causar a desgraça e fim do Mundo. 

Tudo piora quando a este tom estridente do filme se junta a narração de Emma Thompson sobre a viagem da sonda espacial Voyager, Narração que serve para nos lembrar que aquela tecnologia foi criada (em parte) para a pesquisa e aperfeiçoamento da Humanidade. Esta explanação ao longo do filme é insuportável e irritante. 

Como se tanta negatividade não fosse já por sim deprimente, cabe a Patricia (Jennifer Garner) o papel de personagem mais perigosa deste Men, Women & Children. Patricia é a pessoa que mais se preocupa com os males da Internet e tecnologias afins, mas que no fim, as utiliza até à exaustão para controlar todos os passos da filha. Sufocando-a de uma forma surreal e perigosa. 















Don e Helen (Adam Sandler e Rosemarie DeWitt) são um casal infeliz. Ele é viciado em pornografia na Internet. Ela, descontente com a relação, inscreve-se num site de encontros. Aqui inicia a busca não por afectos ou sentimentos românticos, mas por sexo. O filho deste casal é tão viciado em sites de pornografia que não consegue ter relações sexuais normais com miúdas da sua idade. Sandler está muito longe do seu registo habitual. Certamente que o actor interpretou aquilo que o realizador lhe pediu, mas a sua incapacidade em exibir emoções coloca-o a milhas de distância do talento da interpretação de DeWitt. 

Depois existe Joan (Judy Greer), uma mãe obstinada em tornar a filha Hannah (Olivia Crocicchia) na estrela que ela não consegui ser. Joan cria um site para a filha, onde coloca fotografias da jovem em poses pouco dignas de uma adolescente. Aquilo que a jovem pensa ser uma montra para o seu futuro, é na verdade um site de soft-porn, que a cada novo registo ou clique, rende dinheiro á progenitora.  

Allison (Elena Kampouris) é outra personagem central do filme. É uma menina anoréctica que venera um dos rapazes mais populares da escola. A história entre ambos acaba com a perda da virgindade dela, um aborto e a vulgar indiferença dele. 

Finalmente, existe Kent (Dean Norris), um homem recém-divorciado, pai do depressivo e ex-estrela de futebol (Ansel Engort), que ao deixar a equipa torna-se alvo de bullying e que encontra no jogo online RPG um escape e nos amigos virtuais, confidentes. 

Todas estas personagens e histórias interagem nos subúrbios de Austin, Texas. Apesar da maioria das interpretações serem a salvação do filme, tal aspecto não chega. Apaixonam-se, têm sexo, evitam-se e magoam-se, mas passam a maioria do tempo a escrever nos telemóveis ou nos computadores, o que não dota o filme de um registo cinematográfico particularmente notável ou cativante de ver. 

Men, Women & Children é um filme pouco competente, sobretudo pelo seu argumento tendencioso. Nem tudo o que fazemos nesta nova fase dos tempos é mau ou negativo. Nem todos os pais são exageradamente protectores ou excessivamente ausentes. Nem todos os miúdos são tarados ou nerds. Nem todas as jovens são anorécticas ou sexualmente promiscuas. 

Se este filme de  Jason Reitman pretende ser uma critica social ou um alerta de consciências, não consegue. Falta-lhe o contrabalanço e um equilíbrio saudável entre os elementos negativos e os positivos que as novas tecnologias têm na vida dos homens, das mulheres e das crianças. 

Nota:


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