27/03/2016

Batman v Superman: Dawn of Justice | Zack Snyder. 2016




Prefácio
Podia resumir qualquer opinião com uns prints às scores IMDb ou Rotten Tomatoes, ou então, podia tecer comentários arrasadores ao Ben Affleck só porque sim. Podia ainda gastar teclado a escrever sobre a inexpressividade de Henry Cavill mas infelizmente para muitos não sou aquele tipo de pessoa que usa scores só quando convém, sou grande fã da família Affleck e é impossível falar de inexpressividade de um rosto desenhado meticulosamente por Apolo. 


Introduções à parte, facto é que a opinião pública está dividida entre ódio e amor. Em ambos os lados há razões e erros. Longe vão os tempos em que o meio-termo era sinónimo de opinião saudável. 

Para a autora destas palavras, Batman v Superman: Dawn of Justice não é um filme que entrará para o top de filmes favoritos mas também não ficará no caixote do lixo ou de spam. O filme de Zack Snyder alcançou um lugar confortável na (minha) lista/top das melhores adaptações de BD ao Cinema. 

É problemático o facto de já termos visto "n" Batmans e "n" Super-homens no grande ecrã. Mas nenhum dos filmes feitos até hoje abordaram como este a questão de Deus versus Homem. E essa é uma abordagem que uma pessoa de História (sim, eu!) não pode ignorar e que dá logo de imediato uma grande vantagem ao realizador e consequentemente ao filme. 
Desde os primórdios da História que a relação entre Homem e Deus gera paixões, invejas, medos, rivalidades. Uns colmatam o fascínio divino com a criação de panteões para que vários Deuses tivessem várias funções, outros mataram etnias menores para alcançar a divindade tentando a transformação em Super-Homens e muitos mataram e matam em nome de Deus como se tivessem recebido uma procuração para tal. 
Porquê adorar Deus ou Deuses se o Super-homem - um ser superior aos demais - é o modelo ideal para elevar a Humanidade  (Nietzsche)?
Deixando a História e a Filosofia de parte para não vos maçar mais, vamos ao que interessa. Como (quase) todos os filmes, Batman v Superman: Dawn of Justice tem coisas boas e más. seguem-se SPOILERS (portanto se ainda não viram o filme, parem de ler). 


Aspectos Negativos: 

- A quantidade exagerada e conteúdos explícitos dos teasers, trailers e tv spots. Com tanta informação, tudo ou quase tudo o que vimos no filme já nos tinha sido apresentado previamente. O factor surpresa não acontece. 

- A edição. Parece que filmaram tantos conteúdos que nem sempre o resultado final é feliz. Apesar das 2h30 de filme, existem cenas curtas e desconectadas das restantes. Muitas transições de cenas não foram adequadas. 

- Lex Luthor. Jesse Eisenberg deu o seu melhor e deu à personagem um misto de inteligência e de loucura que podia funcionar melhor se não tivesse que partilhar as atenções com tanta gente e com tantas história paralelas.  Tudo o que acontece à sua volta é tão complexo que há uma certa dificuldade em encaixar a história de Luthor. As suas peculiaridades e aspirações a maníaco de escala mundial não são fáceis de acompanhar e aqueles que não conhecem a personagem terão dificuldade em acompanha-la. 
A falha não é do actor, é do realizador ao não dedicar tempo suficiente para retratar uma personagem complexa é irritante. 
Temos um vislumbre breve sobre o seu passado (problemas com o pai que aparentemente é abusivo) e da sua psique sobre a dualidade de ser um génio e de querer dominar o Mundo para algo que não fica muito claro. A sua apresentação directa como louco megalomaníaco num mundo dominado por "um Deus" e por um Super-Homem é diminuta. Nem a forma interessante como manipulou as duas personagens principais num duelo de titãs foi realizada com o tempo correcto. Tudo aconteceu à pressa. Mas volto a referir, a abordagem de Eisenberg foi bastante corajosa e eficaz. 

- Doomsday. Ao contrário do que acontece com Lex Luther, ainda bem que Apocalypse (nome em português) tem pouco tempo de antena. Nem a estética nem os efeitos especiais são impressionantes o suficiente ou reflexo da aberração genética que é. O Doomsday de Batman v Superman parece um misto de Tartaruga Ninja sob efeito de esteróides e o Hulk com prisão de ventre. 

- A sequência de acção de Batman no deserto. Ok, é uma alucinação mas toda a coreografia da luta é terrivelmente coreografada. O pretendido não acontece e a cena é lenta e mal ensaiada. 

- A continuidade da história de Man of Steel não funciona para aqueles que não viram o filme e o enredo de Batman v Superman implica um conhecimento prévio da história no que diz respeito à personagem Clark Kent/Superman. 

- Escolher Jeffrey Dean Morgan para interpretar Thomas Wayne fez-me sorrir ao imaginar Edward Blake / Comedian como pai de Bruce Wayne. Este não é propriamente um ponto negativo mas é um turn-off com piada.















Aspectos positivos

- Ben Affleck conseguiu encarnar a personagem de forma perfeita. A sua história é bem contada, a personagem é sexy, sensível, egoísta em doses equilibradas e violento. Batman é tão badass como Bruce Wayne como quando tem ao seu serviço os gadgets especiais. 

- O reforço da benevolência de Superman. Depois da destruição em Man of Steel, Snyder reforça a humanidade de Clark. A forma como as pessoas olham para ele e o adoram é comunicada de forma satisfatória e perturbadora, um retrato fidedigno de como o ser humano lida com as coisas mais poderosas do que nós - num misto de temor cego e medo.

- A exploração do oposto, ou seja, ao longo do filme Superman passa de Deus a "Diabo". Entre as pessoas cresce a insatisfação perante o Ser oriundo de outro Planeta e quando Clark Kent é exposto a este ódio, Henry Cavill expressa muito bem a dor e tristeza ao constatar esta nova realidade. 

- A relação entre Lois (Amy Adams) e Clark. A química é inquestionável. Lois humaniza Clark, dá-lhe o sentido de "casa" e de pertença. Em certos momentos e aspectos a mulher é mais poderosa que Kent. 

- Alfred: cada minuto que Jeremy Irons está em tela é um prazer. O efeito Irons é sempre factor de charme. 

- Wonder Woman: a surpresa das surpresas. A escolha não podia ter sido melhor. Gal Gadot é absolutamente linda e dá à personagem Diana Prince, mistério, sedução e poder. A química com Bruce Wayne é totalmente bem sucedida. Estou pronta para ver mais desta Amazona. 

- A banda sonora de Hans Zimmer (Inception, The Dark Night) e Junkie XL (Mad Max: Fury Road) que, com algumas excepções, foi bem concebida. 

- O duelo Batman - Superman. A luta não se limita a acção. É um momento mais dramático e político do que aquilo que os fãs das adaptações da BD ao Cinema estão habituados a ver e talvez seja esse factor que está a decepcionar muitos espectadores. Ao contrário do que acontece com Tony Stark e Steve Rogers, estas duas personagens não têm ligação emocional nem história. Esta batalha não se limita a socos e afins, são as questões políticas e filosóficas que estão em foco. Muitos são aqueles que escrevem sobre a desactualização das noções de divindade e de obediência mas só pode argumentar isso quem tem pouco conhecimento sobre a temática, sobre o Passado e sobre o Presente (real e não da ficção).

- A morte. Quão icónico foi assistir a dois funerais? Um - o enterro espectacular de Superman, um Deus e herói admirado por todos depois da morte. Como se costuma dizer:  os heróis perfeitos são os que estão mortos porque mortos não nos podem decepcionar. O outro, o enterro de Clark Kent, filho, namorado, amigo, um bom homem, numa pequena cerimónia em casa, a casa que abraçou como "ser humano". 

- A utilização perfeita do epitáfio do túmulo do arquitecto inglês Christopher Wren "If you seek his monument, look around you"

- Granny’s Peach Tea: um grande e intenso momento!

Não é um filme divertido, não pretende ser. É um filme com acção e drama, motivações realistas e ideologias fortes e contraditórias. Dito isto, não liguem muito ao que a critica e afins anda a escrever, talvez a negatividade seja só reflexo do cinismo que caracteriza a cultura actual da comunicação social, ou então, escrevem mal sobre o filme porque não prestaram muita atenção à mensagem intrínseca. 

Por último, parece que Ben Affleck vai - muito provavelmente - enveredar numa carreira a solo como Batman e isso, caros amigos, é algo que espero ansiosamente e que quero muito ver. 





6 comentários:

  1. Gostei muito do Bruce Wayne e da Wonder Woman. Quanto ao Doomsday, não me sai da cabeça que é igualzinho ao Cave Troll do Senhor dos Anéis:-P

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  2. Adorei a sua critica.

    Como fã confesso de BD em geral e da Santíssima Trindade da DC em particular, só tenho de ficar deliciado que tenha gostado deste filme. É bom ver uma critica muito positiva mas, acima de tudo, entendida na mitologia que tanto adoro. Não se coíbe de apontar o que está mal, mas baseando a sua opinião na literatura e não em ideias pré-concebidas de personagens que muitos dizem conhecer mas que não deverão ler há décadas.

    Obrigado e se tiver paciência convido-a a visitar o meu blog: achoqueacho.blogspot.com

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  3. Eu diria rigorosamente o oposto em relação ao Cavill e ao Affleck. Concordo que o Cavill pode não ser o melhor ator do mundo (ainda tem um longo caminho a percorrer) mas dai a ser inexpressivo vai uma longa distancia e sim, aquele rosto desenhado por Apolo bem podia estar sem mover um músculo que eu ia gostar de vê-lo na mesma lol. Já o Affleck mata-me de tédio sempre que o vejo. Olhar para ele e olhar para uma parede beje faz-me rigorosamente o mesmo efeito: nenhum. Aliás, ainda consigo achar a parede bem mais interessante.
    Ainda não vi este filme e só vou vê-lo por causa do Henry porque se fosse pelo Ben não me dava a esse trabalho. Ai os sacrifícios que uma mulher faz por um homem!

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