27/11/2017

Opinião ▪ Beach Rats | Eliza Hittman. 2017



A sinopse de Beach Rats é muito simples: o filme aborda a vida de um adolescente de Brooklyn que passa os dias a passear com os amigos, a consumir drogas e a pesquisar online por encontros sexuais com homens. 

Filmes sobre adolescentes problemáticos não faltam e filmes sobre adolescentes com dúvidas acerca da sua sexualidade também não. É verdade que a sinopse do segundo filme de Eliza Hittman tem potencial para afastar os interessados, mas fica o conselho: não se afastem. A sinopse não faz jus ao filme.

Beach Rats não é somente um filme sobre adolescentes nem um filme sobre sexualidade, é muito mais do que isso. A prova maior são os prémios e nomeações que a realizadora recebeu. Hittman venceu o Directing Award no Sundance Film Festival deste ano. Foi também premiada no Montclair Film Festival, no Hamburg Film Festival, no Independent Film Festival of Boston, no L.A. Outfest e nomeada em vários outros.


Frankie (Harris Dickinson) vive em Brooklyn com a sua mãe (Kate Hodge), a irmã mais nova e um pai moribundo. É verão e o jovem passa a maior parte do tempo com amigos na praia. Bebem, fumam, consomem drogas e pouco ou nada de útil fazem. Tudo muda quando Frankie conhece Simone (Madeline Weinstein), uma rapariga que tenta obstinadamente ter uma relação amorosa com ele e que o força a encarar um aspecto que até então era secreto na sua vida: a sua atracção por  homens. Ao tentar manter a fachada de um relacionamento com Simone, Frankie continua a encontrar homens que conhece online para sexo e será apenas uma questão de tempo até ser forçado a encarar a verdade sobre si mesmo e os dois mundos em que vive não demoram a colidir com explosivos resultados.







O jovem Harris Dickinson é um incrível protagonista. A sua entrega à personagem valeu-lhe uma nomeação na categoria Best Male Lead nos Film Independent Spirit Awards, ao lado de James Franco e Robert Pattinson. A câmara quase nunca retira o jovem actor do primeiro plano. Há certos momentos do filme que Harris parece estar a protagonizar uma campanha de Moda, um anúncio de Tom Ford ou um editorial com assinatura de Mario Testino. O inglês é alto, bonito e tão expressivo que, por vezes, os diálogos são substituídos por um olhar ou por um gesto. 

A personagem é complexa e traça a batalha de Frankie com sua sexualidade. Externamente, é tudo o que um rapaz oriundo da classe média deve ser: bonito, atlético, masculino. No entanto, aquilo que os seus amigos e familiares tomam como sinal de angústia rebelde é na verdade uma máscara para esconder a batalha que trava por dentro.
Até nos sites de encontros e à distância de uma webcam o jovem usa um chapéu ou as sombras para se esconder, é como se não conseguisse reconhecer sua sexualidade. Os seus desejos e instintos são compartimentados de tal forma que parecem não fazerem parte dele. Quando se encontra com outros homens parece um robot, uma outra pessoa. 







Em casa, a mãe é completamente inconsciente acerca da situação que o filho esta a passar, atribuindo o seu comportamento errático às drogas e aos amigos. Ela tenta desesperadamente ser uma boa mãe, mas ao não saber a verdade sobre o filho, é completamente incapaz de evitar o perigoso caminho que o jovem está a seguir. 

Talvez se Frankie fosse sincero para com a mãe e os amigos estes o aceitassem sem pudores ou julgamentos, mas no entanto e porque o protagonista não se aceita a si mesmo, conduz - por acidente - os amigos e ele próprio a um perigoso caminho homofóbico.

O ritmo do filme é lento e o desempenho de Dickinson "carrega" o filme praticamente sozinho. Realizado com um "estilo de observação", o argumento depende muito do espectador pois cabe a cada um de nós captar as subtilezas de Frankie, obrigando-nos a unir os pontos, pois a narrativa resiste ao desejo de demorar mais tempo do que precisa.

Beach Rats envolve e entretém o espectador ao contar uma história sincera e sensível. Com música esparsa, cinematografia realista e pouco diálogo, a realização de Hittman permite dar espaço a Dickinson para que este brilhe de forma eximia nesta sua estreia num filme para cinema de longa duração. 

Filmado em 16 mm pela directora de fotografia Hélène Louvart, Beach Rats não deve ser comparado com outros filmes do género, tem os seus próprios méritos e é um dos filmes mais ousados e mais originais do ano.



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