14/02/2018

Opinião ▪ Black Panther | Ryan Coogler. 2018



Heróis, super-heróis, deuses, semideuses, mutantes e afins. Ultimamente o mundo do Cinema está cheio de personagens oriundas dos universos criados pela DC e pela Marvel. Alguns projectos são bem sucedidos, outros são verdadeiros tiros no pé. Neste tipo de filmes, os fãs, os simpatizantes e aqueles que abominam todo o tipo de adaptação da BD à Sétima Arte não podem nem devem esperar argumentos intensos, devem esperar filmes de acção, que distraiam e que por cerca de duas horas, divirtam.

A DC não anda nos seus melhores dias e com a sua última aposta, Justice League, prova que grandes elencos não fazem bons filmes. O filme é sofrível do principio ao fim, falta de empatia entre personagens, argumento fraquíssimo, história básica e efeitos especiais muito pouco competente (sim! a questão do bigode de Henry Cavill). A Marvel tem conseguido superar algumas provas e isso é alcançado porque têm tido a habilidade de fazer bons castings, construir bons elencos e tem tido no humor, a sua arma chave.

Mas, este texto, pretende ter Black Panther é o tema central, e que belo e bonito tema é. Com este novo capítulo, a Marvel superou muitas provas e arriscou ao fazer uma ode a África.





O realizador Ryan Coogler criou um projecto maravilha e deu-lhe um toque precioso e que tanta falta faz a Hollywood: o mito. O seu foco principal é a nação fantástica de Wakanda, uma espécie de Éden africano, onde paisagens são verdes e castanhas, onde o céu é azul e a água transparente e onde as tribos cruzam vivência com a ficção científica. Em Wakanda, as naves espaciais, que se assemelham a máscaras tribais, percorrem caminhos deslumbrantes traçados sobre majestosas quedas de águas.

Wakanda é o lar de Black Panther ou T'Challa (Chadwick Boseman), mais um herói da Marvel que sai da página de um livro para um filme. Criado em 1966 por Stan Lee e Jack Kirby, a "Pantera Negra" original estreou ao lado dos Fantastic Four numa aventura passada em Wakanda, esse local mágico situado no continente africano e alicerçada num metal misterioso, o vibranium.

Nas décadas que se seguiram, Black Panther sofreu uma variedade de alterações de trajes e de aventuras nos quadrinhos. Teve uma minissérie animada realizada por Reginald Hudlin e, mais recentemente, teve um refresh editorial da responsabilidade de Ta-Nehisi Coates. Para realizar o primeiro filme de Panther, a Marvel convocou Ryan Coogler, que tem no curriculum Creed e o incrível Fruitvale Station. Nesta nova aventura profissional, Coogler fez-se acompanhar por Rachel Morrison, a directora de fotografia com quem trabalhou em Fruitvale Station, uma opção sábia e que ajuda a explicar a intimidade e fluidez deste filme.

Escrito por Coogler e Joe Robert Cole, Black Panther conta a história de T'Challa no presente, mostra esboços do seu passado e olha para o seu futuro. A forma atrapalhada como T'Challa foi apresentada em Captain America: Civil War é aniquilada e é feita a devida apresentação neste novo capítulo. 

Ulysses Klaue (Andy Serkis) é o primeiro vilão  a ser apresentado. A personagem (um tanto ou quanto caricatural) é um traficante de armas que tem um braço artificial transformado numa espécie de arma que é movida a vibranium (que roubou em Wakanda). A Klaue junta-se outro vilão, Erik Killmonger (Michael B. Jordan), cujas motivações vão além da tentativa de destruir a nação de T'Challa. Os actos destes dois criminosos chamam a atenção do simpático agente da CIA, Everett K. Ross, interpretado por Martin Freeman, que se junta ao elenco.





A história do filme viaja entre Wakanda, EUA e Coreia do Sul e tudo é feito com elegância, como se James Bond ou se The Man from U.N.C.L.E. colidissem no mesmo universo que um jogo de consola. Momentos de perseguições e de caos são coreografados ao detalhe e premiados com guarda roupa e acessórios de alta-costura. Ryan Coogler pensou tudo ao detalhe e não poupou em sensibilidade. Por exemplo, se houvesse a tentação de colocar Serkis a roubar cenas ou a ter protagonismo, o realizador voltou a sua atenção para Killmonger e empurrou o filme noutra direcção, afastando a ousadia expectável de criar um vilão branco e racista.

Parte do prazer do filme e da sua mensagem está na forma subtil e inteligente como dispensa ou molda discursos baseados em etnias ou raças. Wakanda é uma monarquia militarista que, no entanto, é justa e democrática. A vida em Wakanda é ao mesmo tempo urbana e rural, futurista e tradicional, tecnológica e mística. As naves espaciais ampliam os edifícios em ascensão com toques de palha; um comboio de alta velocidade passa por um mercado que vende cestas tradicionais. Um dos cenários mais impressionantes do filme é uma sala de trono ao ar livre, revestida horizontalmente com partes de árvores suspensas que cria um padrão solto e que desencadeia a divisão entre os mundo interior e exterior.





Como muitas aventuras, histórias ou lendas, Black Panther gira em torno de um drama familiar de pai e filho - há um assassinato, um vácuo de poder e um herdeiro um tanto relutante em aceitar o poder no seu todo, uma intriga patrilinear que é preenchida aqui com elementos intensos que envolvem questões de ascendência, identidade, a Diáspora africana e a fronteira entre o novo mundo e o antigo. Um fio narrativo particularmente interessante é apresentado Sterling K. Brown, cuja presença em cena é diminuta mas que consegue transmitir capítulos inteiros de sofrimento e de história.

Jordan é uma presença carismática e há momentos em que até podemos questionar se não teria sido este actor uma melhor escolha para interpretar a personagem principal. O magnetismo e a empatia entre o público e a personagem principal, desempenhada por Boseman é mais lenta mas este é um processo deliberado e bem sucedido. Tal como muitos dos seus conterrâneos, o rei de Wakanda fala num inglês com uma espécie de pronuncia sul-africana, um sotaque que convida a recordar Nelson Mandela e que sugere o papel que T'Challa em breve assumirá como diplomata internacional. A calma, a humanidade, a ética e os valores democráticos que esta personagem tem, afastam-no a milhas de todos os membros do Panteão Marvel. Falamos de linhagem real e mística, de um herói que tem a seu cargo, uma nação, uma identidade, um passado e que envolve a luta pela sobrevivência. É o primeiro super-herói com descendência africana e isso não é esquecido durante um minuto que seja.

Para o desenvolvimento da narrativa e para o engrandecimento do filme é importante o facto de que T'Challa está rodeado por uma falange de mulheres. Mulheres que o suportam com apoio maternal, militar e científico. Há um batalhão de mulheres guerreiras denominado Dora Milaje, cuja chefia está sob tutela de Okoye (Danai Gurira), a dinâmica, engraçada e inteligente irmã Shuri (Letitia Wright), a "mãe razão" Ramonda interpretada pela lindíssima e sempre interessante Angela Bassett e Lupita Nyong'o, que é Nakia, uma mulher guerreira com sangue real. 





Impulsionada e abrilhantada pelas mulheres groovy e afro futuristas, Wakanda é em si, a força do filme, a personagem principal. A nação de Wakanda é um mundo místico onde pastores patrulham as fronteiras com armas tecnológicas e roupas deslumbrantes e poderosas por causa do vibranium. Nunca tendo sido conquistada, Wakanda escapou aos traumas históricos sofridos em grande parte do continente africano, permanecendo livre dos estragos do colonialismo e do pós-colonialismo.

É um filme Marvel e isso nunca é colocado de lado, seja porque vimos máscaras, combates ou referências subtis aos Avengers. Mas no filme de Ryan Coogler a raça e a identidade são os pontos centrais. As origens importam e muito em Black Panther, que aborda pertinentes preocupações humanas sobre o Passado, o Presente, o Futuro e questiona o uso indevido e os abusos de poder. Ao enfatizar a mística e identidade africana, a criação e a libertação, o filme torna-se num símbolo de um passado que foi negado e de um futuro que se sente muito presente. E, ao fazê-lo, com brilhantismo estético, abre um mundo novo no universo Marvel e a nós, espectadores, incita a um encantamento com estas novas personagens e com o universo magnifico que as rodeiam.




"The world is changing. Soon there will only be the conquered and the conquerors. You are a good man, with a good heart. And it's hard for a good man to be a king."

-- Trailer --


1 comentário:

  1. Foi um ótimo filme, acho que foi muito bem feito. Michael B. Jordan é um ótimo ator. Seus trabalhos sejam impecáveis e sempre conseguem transmitir todas as suas emoções. Ele fará um ótimo trabalho em seu novo projeto. Na minha opinião, Fahrenheit 451 será um dos mehores filmes sobre o futuro de este ano.. O ritmo do livro é é bom e consegue nos prender desde o princípio. O filme vai superar minhas expectativas. Além, acho que a sua participação neste filme realmente vai ajudar ao desenvolvimento da história.

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