Em Sacramento (Califórnia), em 2000, uma peculiar jovem adolescente de 17 anos faz a sua entrada na vida adulta.
É este o mote do filme Lady Bird de Greta Gerwig. Os talentos de Greta como atriz são sobejamente conhecidos mas a sua estreia na realização entra diretamente na mesma lista de Woody Allen e Richard Linklater ao criar um filme sobre a vida, sobre os momentos afortunados desta mas também sobre os infelizes, sobre os prazeres mas também sobre os infortúnios. Lady Bird é inocentemente sincero e mostra personagens que são retratos de pessoas reais e com as quais nos identificamos.
Ao longo do filme, sempre que a personagem principal, interpretada por Saoirse Ronan tenta conversar com elementos do sexo masculino protagoniza cenas verdadeiramente estranhas mas realistas, tal como cada interação que tem com os pais. Todo o argumento é mergulhado em emoções humanas.
O burburinho em torno de do filmes estreia de Greta aconteceu logo após o estrondo que teve com a avaliação quase imaculada no Rotten Tomatoes mas depressa os ânimos acalmaram e aquilo que todos esperavam não aconteceu. Nem toda a critica recebeu o filme de braços abertos. É que o filme não é para todos. Porquê? Sobretudo pela sua temática central, que para muitos pode ser catalogada como "filme de e para adolescentes". Mas para a autora destas palavras, esta indexação é demasiado singela para o filme em causa. Garanto que quando o filme terminou, queria mais. Ficava com gosto a ver mais capítulos da curiosa e divertida vida de Lady Bird.
Todo o elenco é soberbo, mas Saoirse Ronan é soberba como Christine "Lady Bird" McPherson. É a típica personagem que adoramos odiar e odiamos adorar. Simpática mas detestável, mal educada mas divertida, irreal mas verdadeiramente humana. Laurie Metcalf e Tracy Letts são os pais de Lady Bird e ambos são brilhantes. A família de Bird não é perfeita. Os problemas monetários têm um grande impacto no dia-a-dia familiar. O pai está desempregado, a mãe trabalha a dobrar para conseguir suportar as despesas mensais. Entre a jovem e os pais acontecem momentos maravilhosos e intensos. O pai apoia a rapariga no sonho de entrar numa universidade em Nova Iorque, já a mãe prefere ter a extrovertida jovem perto de casa. Entre os três existem momentos de grande cumplicidade mas também de choque geracional e de conflito de valores.
O jovem talentoso Timothee Chalamet, a estrela revelação de Call Me by Your Name, é um dos namorados de Lady Bird e a sua personagem é um dos pontos mais fracos do filme. Talvez porque não consegue brilhar na interação com uma personagem principal tão forte, ou porque Greta tomou a opção de lhe dar uma forma de estar e de ser tão extremista e política que não permite ao espectador criar grande empatia com a figura que interpreta. Beanie Feldstein que encarna a melhor amiga de Lady merece uma saudação pela positiva.
Todos sabemos o que é estarmos inseguro sobre quem somos e quem queremos ser. Lady Bird explora isso, com humor e habilidade dramática. Vai deixar-nos tristes, vai fazer-nos sorrir mas mais importante do que isso, vai fazer-nos pensar nas nossas próprias vidas. O filme parece capturar perfeitamente um tempo e o lugar na vida de uma determinada pessoa. Ronan é incrível e Gerwig e prova definitivamente que é uma talentosa cineasta. A cinematografia, a edição, a arte e o guarda-roupa contribuem de forma perfeita para o argumento e para aquela que é uma espécie de homenagem a Sacramento. O filme é engraçado, doce, especial, repleto de detalhes e cuja grandeza é difícil explicar em palavras. Obrigatório ver. E a partir de agora, parece certo que se era um prazer ver Greta Gerwig à frente das câmaras, passou a ser muito desejável ver mais do seu trabalho nos bastidores da realização.
“Listen, if your mother had had the abortion,
we wouldn’t have to sit through this stupid assembly!”
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