Barroco.
1. Estilo que se caracteriza pela pujança, pelo dinamismo e pelo tormento das formas, dominadas pelo ímpeto da fantasia e da paixão;
2. Pejorativo exagerado; excessivo;
3. Figurado extravagante; bizarro;
in Infopédia
Subúrbios de Nova Iorque. Anos 20. Falsas moralidades. Prosperidade bacoca. Ambição. Álcool. Jazz.
Nick Carraway (Tobey Maguire) é um escritor falhado que resolve mudar de vida e tentar a sorte profissional como corretor. O seu vizinho é o misterioso milionário Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). Nick fica deslumbrado com Jay, com a vida que este leva e com as festas deslumbrantes que este dá. A relação de vizinhos depressa resvala para a amizade. Amizade esta, que alcança o patamar da cumplicidade quando Carraway descobre que Gatsby é apaixonado pela sua prima - Daisy Buchanan (Carey Mulligan), casada com Tom (Joel Edgerton), um homem rico oriundo de famílias abastadas.
Gatsby pede ajuda a Nick e a Jordan Baker (Elizabeth Debicki) - a melhor amiga de Daisy - para promoverem um reencontro entre o casal. Este acontece, e a chama da paixão é reacendida, mas por pouco tempo. Daisy não tem coragem para deixar o marido. Marido este que a trai, mas pelo qual, aparentemente nutre sentimentos.
Depois disto, tristeza e morte. Nick - um alcoólico em tratamento, é o narrador e o escritor desta história de amor impossível e tragédia grega, nem sempre bem contada.
Oh Baz, What a circus!
A comparação deste filme ao livro e às adaptações cinematográficas já feitas, é inevitável. Muitos são aqueles que perdem tempo a comparar DiCaprio a Robert Redford, Baz Luhrmann a F. Scott Fitzgerald, e por ai adiante. Não vale a pena perderem muito tempo com estas analogias. Luhrmann foi igual e fiel a si próprio. O realizador mergulha no sonho americano dos anos 20 e com o seu modo de realizar muito próprio faz a sua critica barroca ao mesmo. Barroca para o bem e para o mal.
DiCaprio consegue transmitir o mistério solicitado à sua personagem. Só quem leu o livro consegue perceber que Leo foi astuto. Os sorrisos falsos, a fraca capacidade social, a paixão destemida que sente por Daisy e a sua obstinação na procura da felicidade com ela. A frustração e a determinação, é muito bem retratada. Joel Edgerton é igualmente competente. Elizabeth Debicki, pouco aproveitada. Carey Mulligan, deslumbrante visualmente, mas fraca na interpretação, arrisco mesmo dizer, que é demasiadamente teatral. Tobey Maguire é inexpressivo e quase apático (algo a que o actor tem nos vindo a habituar).
Os cenários, os efeitos especiais, o dourado e prateado, as roupas, a banda sonora contrabalançada entre o jazz, o hip-hop e o pop actual são golpes de mestre de alguém que domina muito bem a estética do Cinema, mas este domínio do visual é confrontado com um confuso ritmo. Ritmos acelerados e de extravagância extrema são intercalados com momentos de lentidão profunda e por vezes retardada.
A critica social está presente, não tanto no argumento, mas explicita através de mudanças de cenários e de cor. As cores do luxo, são substituídas pelo negro da pobreza, da sujidade e do carvão. Uma metáfora ao aumento da criminalidade e um agouro da Crise de 1929. Mas tudo isto é abordado de forma superficial - sendo que o luxo de Gatsby é quase o personagem central do filme.
A fotografia do filme é um deleite e permite que o espectador fique extasiado com vários detalhes. As sequências musicais e quase teatrais são incríveis, mas pecam quando passam para a fronteira dos diálogos - quase sempre demasiadamente teatrais e ensaiados.
Tobey Maguire como Nick Carraway tem por vezes mais destaque que Gatsby - é interventivo em demasia. A sua narração frequente é inútil e muitas vezes ao descrever detalhadamente certos acontecimentos e a repetir algumas explicações, quase que é ofensivo para o espectador. Carraway é um voyer incomodativo.
A perfeição que Luhrmann coloca em certas cenas e planos - em que recebemos um encanto visual é conjugada com cortes e ênfase em situações erradas. Zoom`s exagerados e falha absoluta num dos momento de maior destaque do filme - o confronto entre Gatsby e o marido de Daisy. Nem mesmo a entrega fantástica dos dois actores salva a cena.
Mas, o maior problema do argumento é a falta de empatia na história central do filme - o amor entre Gatsby e Daisy. Entre as duas personagens não existe química, emoção ou entrega. Quando estão juntos, assistimos a momentos desajeitados e diálogos que tocam o ridículo.
Baz Luhrmann é exagerado para o bem e para o mal. O simbolismo vigente na obra literária não é descurado, mas não é correctamente aplicado. A extravagância visual (expressão sem sentido pejorativo) não chega para tapar as graves falhas no argumento.
The Great Gatsby de Baz Luhrmann é visualmente bonito e tem alguns actores competentes. O romance é perdido, a superficialidade que faz parte da metáfora da história original, dota o filme de superficialidade absoluta e de algum pretensiosismo artístico. No entanto, tudo isto seria de estranhar se tivesse sido aplicado por outro realizador qualquer, em Luhrmann é normal e aceitável.
Para mim, The Great Gatsby de Baz Luhrmann ficou no limbo da paixão pelo visual soberbo e do ódio pelos diálogos e ritmo. Não será certamente um clássico do Cinema e gostava de estar errada, mas parece-me que será mal tratado pelo passar do tempo. É que CGI não é botox.
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