19/03/2014

Opinião: Her | Spike Jonze. 2013

Título em Portugal: Uma História de Amor
Data de estreia: 13.02.2014 























Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) é um homem solitário que vive um complicado processo de divórcio. Escritor de profissão, passa os dias a redigir cartas encomendadas. Theo "vive a vida" daqueles a quem escreve a correspondência. Vida social escassa, relações amorosas inexistentes, fúteis ou digitais. Despende grande parte do seu tempo-livre a jogar consola. 

Certo dia, ao cruzar-se com o anúncio de um novo sistema operativo dotado de inteligência artificial do mais inovador possível, resolve compra-lo. Na formatação do mesmo, é criada uma personagem à medida – Samantha (Scarlett Johansson). O perfil e consequente voz desta criação digital é tudo aquilo que Theo desejava. A sintonia e afectividade são quase imediatas. O homem e máquina passam horas a conversar. A empatia e amizade depressa resvalam para amor. Theo passa a amar e namorar com o sistema operativo perfeito. O isolamento agrava-se e a realidade torna-se cada vez mais distorcida e virtual. Samantha conhece Theo como ninguém. Percebe-o, aconselha-o, preenche os vazios da vida do escritor. Mas rapidamente a relação perfeita chega a um fim. É que o sistema operativo ideal de Theo é partilhado por outras pessoas. Pessoas que, tal como ele são apaixonados e dependentes daquela voz terrivelmente sexy e rouca. Aparentemente o fim da relação abala Theo, mas não o prejudica. Pelo contrário. O homem parece perceber o potencial de alguém que sempre esteve perto dele e que nunca viu “com olhos de ver” – a amiga e vizinha e Amy (Amy Adams).





Antes de mais nada, uma vénia muito demorada aos Arcade Fire pela brutal banda sonora. 
Spike Jonze toucou em tantos pontos sensíveis. Tecnologia e solidão num futuro próximo – um mal que a todos (por breves ou longos momentos) assola. Relacionamentos modernos e a necessidade de voltarmos a ser humanos sem estarmos a olhar para um monitor horas a fio é o mote de Her. O mundo está em constante mutação, mas isso não tem que significar que também nós – seres humanos – tenhamos que enveredar por uma vida robótica e monótona. O realizador provoca, desalinha e inquieta a mente do espectador. 

É fácil perceber porque Her foi escolhido pela National Board of Review como o melhor filme de 2013. O visual, as cores, a edição, o argumento e os figurinos são um triunfo em si próprios. A música acompanha e encaixa como luva nos humores e actos das personagens. A história do filme é aparentemente fútil e simples, mas nunca resvala para o cliché. A identificação da parte de quem vê o filme com Theo é inquestionável. Vivemos num mundo onde a dependência de tecnologias e gadgets é cada vez mais uma realidade. Uma deprimente realidade. 

Joaquin Phoenix dispensa grandes elogios, todos conhecemos o seu inesgotável talento. Phoenix dota Theo de um estilo distinto. O actor interpreta um protagonista complicado, sensível, mas ao mesmo tempo engraçado, apesar de amargurado na sua solidão intensa. No filme, o actor está quase sempre sozinho ou acompanhado pela voz de Johansson. Voz que começa como alguém quente, sensível, pronta a amar, mas que depressa se distancia e afasta da humanização que aparentava ter. No fim, Samantha é somente um computador. E Theo um Homem. Nada mais. 

Her de Spike Jonze é um filme sobre a modernidade tecnológica e é uma chamada de atenção à humanidade. Mesmo perante esta dependência “de rede”, o amor, a perda, a evolução e o desejo são elementos atemporais e intrínsecos ao Ser Humano. 



"The past is just a story we tell ourselves"






Nota:


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