04/12/2014

Exodus: Gods and Kings | Ridley Scott. 2014

Título em Portugal: Exodus: Deuses e Reis 
Data de estreia: 11.12.2014 






















Não sei se Ridley Scott chegou a ler os 10 Mandamentos. Se os leu certamente que não dedicou muito tempo à leitura e estudo do que dita: “não adulterarás”. 

É muito penoso emitir opinião sobre um filme que aborda um dos episódios mais importantes da História, um episódio que marcou parte da formação espiritual e ética de Católicos, Muçulmanos e Judeus. Mais difícil ainda é emitir opinião quando se estudou aquilo que Scott mostra. 

Os menos informados acham sempre imensa piada ao facto de terem em tela a parceria Ramsés / Moisés – dois gigantes máximos da História - como já aconteceu outras vezes em cinema e televisão. 

No entanto, cronologicamente e de acordo com fontes históricas, é quase impossível colocar juntos na História estas duas figuras míticas. O texto bíblico que serve de fonte a este episódio do Êxodo não menciona (nunca) o nome da filha do Faraó que acolheu Moisés. Mas noutras fontes históricas credíveis, o nome de Hatshepsut é mencionado. Filha de Tutmosis I e da rainha Ahmose, casada com o meio-irmão, Tutmosis II e madrasta de Tutmosis III – o sexto Faraó da XVIII Dinastia egípcia que governou durante mais de cinquenta anos o Egipto – apesar de em grande parte deste reinado não ter governado de forma totalitária. Assim, como podem reparar, Ramsés II nem sequer era espermatozóide. E é com base neste contexto histórico frágil que é difícil opinar sobre este Exodus: Gods and Kings. 

A tarefa do realizador não era fácil. Ter um The Ten Commandments como sombra é quase um castigo, pois apesar de ter os mesmos problemas históricos, o filme de 1956 faz jus à palavra “clássico”. Cecil B. DeMille deu ao mundo um Moisés interpretado por Charlton Heston que dá ao cinema a imagem/personificação/interpretação de um líder, no verdadeiro sentido da palavra. 















Scott conta a eterna história do líder hebraico que envereda numa luta contra o Faraó para salvar e libertar da escravatura os homens e mulheres que estavam subjugados ao poder egípcio. Mostra a jornada monumental da sua fuga e das terríveis pragas que abalaram o Egipto, que têm início com sangue na água e que terminam com a morte dos filhos primogénitos. Tudo isto é contado em 150 minutos e num 3D escusado e sem sentido. 

Christian Bale (Moisés) não está mal mas não consegue mobilizar o espectador na sua causa. Não consegue, porque a todo o momento estamos à espera que entre as paisagens desérticas do Egipto apareça Ra's al Ghul para o incentivar, Bane para o enervar ou o Joker para lhe perguntar “why so serious?”. Também não ajuda à personagem e à interpretação o facto de termos que partilhar a simpatia entre este homem que tem a missão de salvar 600.000 escravos e outro que quer manter os escravos à sua mercê para construir uma cidade à sua medida e imagem. 

Joel Edgerton como Ramsés tinha a obrigação de mais. A personagem foi pensada de forma interessante, tem uma competente maquilhagem e um guarda-roupa peculiar, mas entre momentos de esquizofrenia pouco aproveitada e um sentido de humor pouco subtil, rouba as atenções ao líder do Povo Eleito mas também ele se perde naquela que devia ser a interpretação carismática e marcante, não de um líder, mas de um Faraó. 

A presença diminuta de Golshifteh Farahani como Nefertari é estranha, mas mais estranha ainda foi a escolha de Sigourney Weaver para Tuya – a mãe do Faraó. Estranha porque o seu papel e presença resume-se a duas frases e cinco minutos (se tanto) em grande ecrã. 

Aaron Paul provou que lhe resta muito pouco no mundo do entertainment  além de Breaking Bad e Ben Kingsley é subaproveitado. María Valverde é uma Séfora lindíssima e pouco mais. 

Exodus: Gods and Kings é mais um daqueles filmes que provam que grandes elencos não fazem grandes filmes mas também prova que grandes histórias (e colocando de parte os problemas com as liberdades interpretativas) nem sempre são bem adaptadas. 

É aquele típico filme que não se odeia nem se ama. Tem coisas boas e tem coisas fracas. Um bom filme para ver ao domingo à tarde e ideal para que os progenitores mostrem aos filhos de forma a explicar parte da conturbada história das 12 tribos de Israel que ainda hoje tem várias implicações geográficas, políticas e bélicas.  

A minha nota foi pensada pelo meu amor à Ciência que é a História, aos nomes históricos em causa e pouco mais. 





Nota:


2 comentários:

  1. Quando vi o trailer deste filme pela 1ª vez pensei: "Iupi!", quando vi uma segunda versão foi mais um "Hum, hum..." e às tantas, à medida que a estreia se aproxima comecei a pensar: "Se calhar vejo o filme em casa, depois." E agora com esta crítica sinto uma vontade maior de fazer isso mesmo. Achei piada à parte de trazer o Ra's Al Gul... É verdade que Bale ficou "marcado... e bem marcado" como Batman, mas eu vi "Golpada Americana" e posso dizer que em nada me fez lembrar o Homem-Morcego nesse filme, foi uma personagem completamente díspar. Quanto a este, vamos ver.... muito certamente no sofá do lar... :)

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  2. Olha que eu acho o Charlton Heston um bocado canastrão mas tenho Os Dez Mandamentos como "O" épico bíblico de eleição que nunca será suplantado. E tal deve-se muito ao talento de Cecil B. DeMille, ao próprio Heston e muito ainda à absolutamente magnífica interpretação de Yul Brynner como Ramsés.

    Gosto de ambos, mas o Bale e o Edgerton ainda têm de comer muito Cerelac antes de chegarem ao nível de tais colossos :-)

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