Título em Portugal: Os Combatentes
Data de estreia: 19.03.2015
Les Combattants é um filme sobre a afinidade entre um homem e uma mulher. Mas limitá-lo a essa temática era castrar a sua magnitude. O realizador Thomas Cailley conseguiu renovar este tema que é tão histórico como eterno. É um filme recheado de testosterona e mais do que uma história de amor, é uma história de sobrevivência.
Madeleine Beaulieu (Adèle Haenel) e Arnaud Labrède (Kévin Azaïs) são dois jovens em férias de verão. Arnaud divide o seu tempo entre os amigos e o trabalho no negócio de família. Uma vida simples e pacata até conhecer Madeleine, uma jovem que tem tanto de bonita como de bruta. Ele espera pouco, ela está sempre preparada para o pior. Ele aceita as coisas como elas são, ela acredita em profecias apocalípticas. Madeleine nunca pediu nada a Arnaud, mas Arnaud dá-lhe tudo.
A inversão de papéis entre sexos é o cerne do filme e o elemento cómico do filme. As características masculinas de Madeleine não se prendem com tendências sexuais ou feminismo exacerbado. A jovem encontrou na maneiras bruscas de ser e de estar, uma fuga, um sentido, um refúgio e sobretudo uma forma de sobreviver ao futuro.
A estranha maneira de ser de Madeleine é acompanhada por Arnaud que não renuncia a sua masculinidade, aliás, bem pelo contrário, torna-se mais viril conforme a história avança. E no fim da história, Labrède confirma a sua virilidade e transforma-se num herói. Com esta resolução, Thomas Cailley não pretende enveredar num retorno à ordem pré-estabelecida, mas sim formular uma visão básica – os homens podem esperar por ser e por se tornarem homens. A última cena de Madeleine e Arnaud é uma definição de casal, não há uma superioridade relativa, existem duas pessoas distintas e indissoluvelmente ligadas por uma atracção mútua.
Os jovens actores Adèle Haenel e Kévin Azaïs têm interpretações maravilhosas. Azaïs, um pouco mais desnorteado enfrenta uma Haenel determinada, forte e dura. Um casal dissonante e complementar, quer na forma como falam, como se movem, como reagem e como mostram que o amor pode nascer da diferença e através da sobrevivência e da solidariedade, mesmo que isto implique depender de alguém que nada tem a ver connosco.
Os diálogos entre os dois são musicais. As diferenças na entoação, no ritmo das falas, o fraseado quase neurótico de Arnaud e a forma automática e rápida com que Madeleine fala dão ao ouvido do espectador uma harmonia perfeita, recheada com momentos de rispidez, de ternura, de humor e de frescura.
Em Les Combattants tudo parece ao mesmo tempo leve e sério, engraçado e comovente. Cada palavra, cada olhar denotam sentimentos e exigem reacções por parte do espectador. E a sensualidade selvagem de Adèle Haenel (que passa “metade do filme” com uma t-shirt de alças molhada sem soutien) ficará para sempre marcada na minha memória de cinéfila maníaca.
A fotografia do filme é sublime e a banda sonora perfeita. Thomas Cailley assina este que é o seu primeiro filme original, mostra-se competente e alguém a quem devemos estar atentos e seguir com atenção.
Nota:
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